domingo, janeiro 27, 2013


Tédio e Pós-modernidade


         O tédio um sentimento subjetivo, condição ou estado, antes, apanágio da nobreza e do clero (como benefício concedido a certo grupo em detrimento dos demais; considerado privilégio ou mesmo regalia a ser desfrutada por algumas pessoas), hoje, na contemporaneidade, é um fenômeno de grande impacto na saúde mental da sociedade ocidental. Por sua origem estranha, se questiona se é ele, um fator histórico e cultural ou, condição da natureza humana. O fenômeno se manifesta de forma e angustiante, e se refere à perda de significado humano diante da vida, do mundo e da realidade e podendo atingir qualquer pessoa em qualquer nível social. Como objeto de reflexão o tédio só veio a ser considerado depois do Romantismo. Segundo Honório de Medeiros, “um pouco mais recentemente - quando o romantismo assumia contornos lúgubres - talvez chamássemos o tédio de "inquietude d'alma". Esse tédio, ainda segundo o mesmo autor, era decorrente de uma angústia filosófica - o homem queria saber qual o sentido da vida, para onde caminhava a humanidade, etc.”
E hoje? Por fazer parte do cotidiano, todos nós, de alguma forma, desenvolvemos, em algum momento da vida, o tédio, envolvendo a perda de significados pessoais, perda de sentidos, desconforto diante da vida, indisposição de exercer atividades anteriormente prazerosas.
O tédio, não deve ser considerado, tão somente um comportamento patológico; na medida em que não é uma expressão contínua; acontecendo no contexto de eventos esporádicos do cotidiano. Desse modo, não se pode conceber o tédio apenas como um estado mental interior, senão, também, como uma conseqüência do mundo pós-moderno, pois as atividades sociais, contemporâneas acabam sendo propicias ao desencadeamento do mesmo.
Segundo Lars Svendsen, tédio é um fenômeno característico da modernidade e pertinente à realidade subjetiva de todos nós, um problema do qual ninguém fica de fora, ninguém é poupado
Segundo Carvalho (1998), o tédio é um dos modos de subjetivação a se multiplicar na pós-modernidade decorrente da busca de um ideal fora do alcance que gera um processo de frustração e desinvestimento da vida. Para Svendsen (2006), trata de uma ausência de significado pessoal. La Taille (2009), o define como um tempo longo, lento, que não passa, longo demais para ser suportado.  Buchianeri (2012), acentua no tédio a falta de sentido aliada ao sentimento de vazio do sujeito. Baudelaire, poeta Francês do século XIX, descreve o tédio como inércia, inatividade, vida de pouca intensidade, estado de insatisfação permanente.
Carvalho (1998) afirma que o tédio assenta-se num sentimento de fastio, num cansaço diante das transformações incessante e rápidas e das super ofertas de um mundo que se funda na imagem da abundância e do consumismo.
Neste contexto, o tédio encontra um grande aliado no capitalismo. Com esse sistema econômico e social, o nosso mundo subjetivo sofre, também, grandes transformações.
O homem pós-moderno vive numa época de descrença e tem a impressão de que a vida carece de significado. A humanidade ingressou numa fase caracterizada pelo declínio dos valores.
Desse modo, quando não há mais nada a nos gerar qualquer interesse, desenvolvemos a queixa de que essa vida é intolerável, desprovida de motivações e significados.  Além disso, na contemporaneidade, com a extensa quantidade de estímulos e a possibilidade de desenvolver várias atividades ao mesmo tempo, essas atividades e estímulos perdem seus significados iniciais, sendo rapidamente abandonados pelo sujeito.
Dessa maneira, as pessoas tentam compensar o vazio que sentem, praticando o abuso de drogas, álcool, fumo, promiscuidade, vandalismo, desenvolvendo distúrbios alimentares, agressão, violência, etc. Tédio também pode ser um sintoma de depressão, mas difere desta no sentido de que o tédio é uma espécie de indisposição para fazer qualquer coisa, inclusive as atividades que normalmente achamos prazerosas, como ler um livro ou ouvir música. É uma sensação menos intensa e mais sujeita às circunstâncias enquanto a depressão é profunda e vem acompanhada de sintomas como tristeza e baixa auto-estima. No entanto, às vezes, ambos se confundem. Quando a falta de ânimo se torna crônica, desencadeia o tédio existencial que se assemelha a uma depressão branda. “Em ambas as situações, a pessoa não tem vontade de fazer nada e pode achar que a vida não vale à pena.
                        Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                                     Psicóloga Clínica

sábado, janeiro 26, 2013

Coping Religioso e Saúde Física e Mental


Coping religioso e Saúde Física e Mental
Coping, palavra inglesa sem tradução literal em português, significa grosso modo “lidar com”, “adaptar-se a”, “enfrentar” ou “manejar”. Alguns estudos brasileiros traduzem coping por enfrentamento.
Coping tem um papel central na relação entre religiosidade, espiritualidade e saúde e pode ser melhor definido como o conjunto de estratégias utilizadas por uma pessoa para se adaptar a circunstâncias de vida adversas. Na perspectiva da Psicologia da Religião, Coping significa a busca por significado em tempos de estresse, “um processo através do qual os indivíduos procuram entender e lidar com as demandas significativas de suas vidas” (Pazine, 2004).
A religião oferece uma variedade de métodos ou estratégias de Coping, que, engloba uma série de comportamentos, emoções, cognições e relações.
Já dissemos anteriormente o quanto a religião pode melhorar a saúde promovendo práticas saudáveis de vida, melhorando o suporte social, oferecendo conforto em situações de estresse e sofrimento e até alterando substâncias químicas cerebrais que regulam o humor e a ansiedade, levando-nos ao relaxamento psíquico. Portanto, a religião pode ser um fator psicossocial e biológico benéfico na recuperação de doenças físicas e mentais.
Dito em outras palavras, crenças religiosas quando bem orientadas (não fanatismo) podem influenciar a maneira como pessoas lidam com situações de estresse, sofrimento e problemas vitais. Nessa circunstância a religiosidade pode proporcionar à pessoa maior aceitação, firmeza e adaptação a situações difíceis de vida, gerando paz, autoconfiança e, uma imagem positiva de si mesmo. Podem ainda, reduzir a sensação de desamparo e perda de controle que acompanham doenças físicas. A percepção de uma relação com Deus pode oferecer uma visão de mundo que proporciona socorro e sentido a doença e ao sofrimento humano.
No entanto, crenças religiosas também podem gerar culpas, dúvidas, ansiedade e depressão por aumento da autocrítica e autopunição. Instituições religiosas podem ainda levar pessoas a estabelecer maneiras de agir e pensar extremamente rígidas e inflexíveis, e nesse caso, favorecer o desencadeamento de transtornos emocionais, desestimulando, por exemplo, a busca precoce de tratamento e cuidados médicos necessários.
Profissionais de saúde mental ainda apresentam dificuldades em lidar com a religiosidade e espiritualidade de seus pacientes, no entanto, algumas universidades já despontam o interesse em oferecer treinamento adequado para essa intervenção.
Benefícios que utilizam práticas religiosas bem orientadas são bem vindos desde que não se excluam tratamentos médicos e medicamentosos e sejam respeitadas a individualidade e diversidade de crenças de cada um.
No aspecto negativo encontramos pessoas, que quando enfermas, aderem naturalmente a recursos que possam de alguma forma devolver-lhes rapidamente a saúde e o bem-estar. Estando mais vulneráveis podem ser presas fáceis de manipulação e influências na utilização de métodos que prometem curas milagrosas, retardando, assim, a busca por tratamentos médicos e psicológicos.
 Do lado positivo temos que a aderência a práticas religiosas pode levar as pessoas a adotarem hábitos de vida saudável, como evitar o tabagismo, o alcoolismo, drogadição, promiscuidade. Tais providências podem evitar alguns tipos de cânceres (pulmão, estômago, cavidade oral, faringe, esôfago, laringe e bexiga, AIDS), e outras doenças.
Estudos mostram que a prática de princípios religiosos como o perdão, a compaixão, a fé, a esperança, entre outros, “acalmam”, liberando hormônios como acetil colina, endorfina, serotonina, etc., produzindo relaxamento muscular, serenidade, resguardando o corpo físico, melhorando a digestão e absorção de nutrientes, facilitando o sono, aliviando dores físicas, corrigindo a hipertensão arterial, diminuindo a ansiedade, depressão, etc.
Outra função das crenças religiosas pode ser a de alterar a atividade do sistema imunológico, prevenindo dessa forma o estresse. A alteração imunológica do indivíduo poderá levá-lo a maior propensão em apresentar doenças mediadas por fatores de imunidade. Um estudo concluiu que um aumento de interleucina-6 (fator imunológico) está aumentado no sangue de pessoas que não freqüentam regularmente cultos religiosos, quando comparadas com praticantes religiosos. A interleucina-6, geralmente se encontra elevada no plasma de indivíduos submetidos ao estresse constante. Dessa forma, pessoas religiosas teriam mais "resistências" aos fatores estressantes do dia-a-dia, ou seja, melhor adaptação psicológica.
As crenças ou atividades religiosas também podem produzir um estado de relaxamento do Sistema Nervoso Central (SNC), associado a uma diminuição da atividade do Sistema Nervoso Simpático, aumentando assim a resposta imunológica, e evitando-se dessa forma várias doenças psicossomáticas.
Profa Dra Edna Paciência Vietta
                Psicóloga Clínica


sexta-feira, janeiro 25, 2013

Corpolatria


Corpolatria


A “Corpolatria” é uma espécie de “patologia da modernidade” caracterizada pela preocupação e cuidado extremos com o próprio corpo não exatamente no sentido da saúde (ou presumida falta dela, como no caso da hipocondria), mas, particularmente no sentido narcísico de sua aparência ou embelezamento físico.
Para o corpólatra, sua imagem refletida no espelho se torna obsedante, incapaz de satisfazer-se com ela, sempre acha que pode e deve aperfeiçoá-la. Sendo assim, a corpolatria se manifesta como exagero no recurso às cirurgias plásticas, gastos excessivos com roupas e Marcas, tratamentos estéticos, abuso do fisiculturismo (musculação), uso de Anabolizantes, etc.
A sociedade pós-moderna é seduzida pela mídia com propostas de mercado, interessado na constante insatisfação e na renovação
Na cultura ocidental há um grande investimento na auto-imagem. O corpo “belo” é considerado uma mercadoria poderosa, cara. O olhar passa a ocupar lugar central – é o mundo das imagens, das aparências. O ter passa a ser sinônimo de reconhecimento do sujeito pelos outros. O sujeito perde-se em sua própria imagem, não dando conta das suas relações com o outro, pois amar implica em sacrificar um fragmento de seu narcisismo, enquanto ser amado implica em ser visto e apreciado.
As condições de vida transformam também as instituições, a escola, a religião, a política, sobretudo a família e estas, por sua vez, modelam a estrutura do sujeito, favorecendo o afloramento de traços narcisistas, presentes em muitos de nós. Todavia, é indispensável compreender que o processo se dá em via de mão dupla, pois contribuições individuais terão, por sua vez, o efeito de realimentar o que Lasch denominou cultura do narcisismo.
Em cada época, sem se dar conta, o homem é tragado pelo social e produz sintomas determinados por essa cultura.
Visto que em nossa sociedade a corpolatria  encontra-seem evidência, nesse espaço – o corpo – é onde os sintomas afloram.
Na era atual, cujas idéias são pautadas por exigências da sociedade de consumo, que promove a ilusão da liberdade individual irrestrita, o mal-estar assume muitas vezes formas de apatia, vazio interior, solidão e fracasso. “Para esses deprimidos, existe o “eu” ideal e o “eu” real, que se encontram muito distantes um do outro.
Cristopher Lasch, conhecido historiador americano, anunciou a substituição das neuroses sintomáticas por desordens de caráter, caracterizadas pelo narcisismo patológico relacionadas por ele á mudanças específicas na sociedade. Diz o autor que a  alteração do sentido do tempo, intenso temor ao envelhecimento e à morte, fascínio pela celebridade, deterioração das relações entre os homens, declínio do espírito lúdico, negação feroz da dependência ao outro, são alguns dos padrões característicos da cultura contemporânea, fortemente narcísica.
 As patologias narcisistas: neo-sexualidades, drogadição, enclaves autísticos, bulimia, anorexia, doenças psicossomáticas, etc, revelam a tentativa de preencher o vazio que cada vez mais se aprofunda quando faltam experiências reais, genuínas e autênticas suficientes para encurtar a distância que separa os dois ‘eus’ (ideal e real).
No entanto, há de se ter o cuidado em não se postular esses quadros patológicos como apanágio exclusivo da pós-modernidade. Há relatos anteriores ao advento da modernidade sobre eles, porém, hoje é reconhecida sua maior freqüência
Temos observado mudança significativa no perfil clínico dos nossos pacientes, com aumentos relevantes de casos de depressão, síndrome do pânico, fobia social, Transtorno Obsessivo-compulsivo, Obesidade, Vigorexia ou Overtraining, também chamado romanticamente por Síndrome de Adônis, etc, sendo esta última, a Vigorexia,  uma das mais recentes patologias emocionais estimuladas pela cultura, não tendo sido, ainda, catalogada como doença específica pelos manuais de classificação (CID.10 e DSM.IV).
O que há de comum entre essas patologias é a expressão no corpo. Corpo que se traduz ora pelo excesso de ações, caracterizado pela voracidade e pelos comportamentos compulsivos, ora pela ausência de ações, impedido de agir pela angústia (pânico), ou prostração e desânimo (depressões).
                 Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                           Psicóloga Clínica  

Efeitos das práticas religiosas sobre a saúde física e mental



                              Efeitos das práticas religiosas sobre a saúde física 
   
       Vários autores têm estudado a religiosidade nas suas relações com o sofrimento individual e os transtornos mentais.
 MacCullou define uma pessoa religiosa como aquela que possui crenças religiosas e que valoriza, em alguma medida, a religião como instituição. Já uma pessoa espiritualizada é aquela que acredita, valoriza ou tem devoção a algum poder considerado superior, mas não necessariamente possui crença religiosa ou é devoto de alguma religião institucionalizada.
 De acordo com Spilka e MacIntosch, a conceituação de religiosidade inclui aspectos individuais e institucionais, enquanto a religiosidade (adesão à crença e a práticas relativas a uma igreja ou instituição organizada) está ligada a atributos de uma dada religião, a espiritualidade é a relação estabelecida por uma pessoa com um ser ou força superior ou sagrado na qual ela acredita.
 De um modo geral a espiritualidade, está presente na vida de todo ser humano, ocupando um espaço importante, capaz de ajudá-lo a encontrar respostas para diversas situações que, às vezes, parece impossíveis, como o caso de doenças incuráveis.
Estudos realizados em diferentes contextos sócio-culturais têm demonstrado que a espiritualidade tem relação com o comportamento e a predisposição ao vício. A experiência religiosa é fundamental na vida de todo ser humano, implicando uma conversão que leva o indivíduo a centrar-se na vida religiosa para então, ou só então, se tornar um ser completo.
Até pouco tempo, a psiquiatria tendia a ignorar ou considerar como doença certos comportamentos religiosos e espirituais. Sabe-se, hoje, que a prática de princípios religiosos como o perdão, a compaixão, a fé, a esperança, entre outros, “acalmam” os nervos, por liberar hormônios como acetilcolina, endorfina, serotonina, etc.
A visão negativa das experiências religiosas deu origem a atitudes discriminatórias por parte da comunidade psiquiátrica brasileira, principalmente com relação a certas religiões. Até os anos 70 pensava-se que a pessoa menos religiosa era mais saudável, mas não havia estudos que usavam metodologia científica para provar isso.
Entender, pois, a complexidade da mente e os efeitos das práticas religiosas sobre a população é hoje um dos grandes desafios dos pesquisadores.
Estudos científicos recentes têm demonstrado que os praticantes ativos de uma crença podem obter benefícios físicos e mentais, entre eles, sistema imunológico mais resistente e menor propensão a certas doenças. Entre os efeitos negativos estariam o fanatismo religioso e a autopunição, ou seja, acreditar que doença teria sido enviada como um castigo de Deus. Cientistas da Duke University sugeriram que há a possibilidade de que envolvimentos religiosos possam afetar positivamente a saúde física através de mecanismos neuroendócrinos e imunes, ou seja, a fé religiosa produziria efeitos no sistema nervoso, em glândulas e no sistema imune humano.
Pesquisas demográficas registram que 99% dos adultos brasileiros declaram acreditar em Deus. Portanto, o desafio para os profissionais, no século atual, é o entendimento das bases psicológicas das crenças, experiências e comportamentos religiosos, com vistas a ampliar este conhecimento em prol da saúde e do bem-estar do ser humano.
Apesar de serem desenvolvidas há algumas décadas em outros países, como os Estados Unidos, no Brasil as pesquisas sobre esse tema ainda estão no início, mas já aparecem principalmente nas universidades públicas: Unifesp, Unicamp, Unesp, Universidade Federal do Ceará entre outras.
Religiosidade/espiritualidade fortalece o sentido de vida e o estabelecimento de projetos vitais e é uma dimensão importante no enfrentamento de situações adversas. Embora também se possa considerar algumas formas de religiosidade patológica que enfatizam a fuga da realidade, o fanatismo ou acirramento de conflitos entre culturas, ou ainda, a associação da religião com efeitos negativos como culpa, ansiedade, intolerância, depressão, rigidez cognitiva e excessiva dependência.
                  Dra. Edna Paciência Vietta
                            Psicóloga Clínica

Borderline: entre Neurose e Psicose


                                     

Há mais de um século tem se usado o termo borderline, para designar um grupo de pacientes que se caracteriza, basicamente, por apresentar uma alteração mental, patológica, fronteiriça entre a neurose e a psicose.
O termo "borderline" (limítrofe) deriva da classificação de Adolph Stern, que descreveu esta doença, na década de 1930, como um Transtorno de Personalidade que se situa entre neurose e psicose. O termo carece de maior especificidade daí existir um debate atual com objetivo de renomeá-la.
Pessoas com personalidade limítrofe podem possuir sintomas psiquiátricos diversos, como problemas de identidade e humor instável e reativo, sensações de irrealidade e despersonalização. São pessoas com tendência a comportamento briguento, podendo transformar pequenos problemas em causas extremas (envolvendo autoridades), são impulsivas, sobretudo, autodestrutivas, manipuladoras, podendo apresentar ideação suicida e sentimentos crônicos de vazio e tédio. São exigentes em termos de atenção, e por estarem em freqüentes situações de embates, costumam provocar conflitos, fazer falsas acusações e apresentar comportamento egoísta (narcisista). São vistas como "rebeldes", "problemáticas", geniosas e temperamentais.
Os sintomas aparecem durante a adolescência e se concretizam nos primeiros anos da fase adulta (em torno dos 20 anos), podendo persistir por toda a vida. A fase inicial pode ser desafiadora para o paciente, seus familiares e terapeutas, porém na maioria dos casos a severidade do transtorno diminui com o tempo. Por ser mais evidente na adolescência costuma ser confundida com rebeldia ou descontrole próprio da idade o que leva a família a não se dar conta de estar diante de um distúrbio grave.
Os sintomas mais presentes (nem todos Borderline apresentam todos estes sintomas) são: medo de ser abandonado: necessidade de nunca se sentirem sozinhas, rejeitadas e sem apoio (para estes pacientes a idéia de ficarem sozinhos é torturante), dificuldade de administrarem emoções, atitudes imaturas e inconseqüentes podendo serem confundidos com delinqüentes, coisa que não são. O Borderline, ora é independente e aparentemente seguro, ora é simpático, fragilizado e dependente, porém, seus sentimentos podem variar do amor ao ódio profundo, rapidamente.
 Apresentam instabilidade de humor diferente do Transtorno Bipolar. Enquanto as oscilações deste último duram semanas ou meses, as dos Borderline duram minutos, horas, dias. Essas oscilações de humor são rápidas e incluem depressões, ataques de ansiedade, irritabilidade, ciúme patológico, hetero e auto-agressividade. Por exemplo: uma paciente liga para o consultório pedindo ajuda, desesperada, dizendo estar muito deprimida, que a vida perdeu o sentido e comparece à sessão horas depois, bem humorada, de bem com a vida,
O Borderline apresenta comportamento autodestrutivo (se machuca, se corta, se queima, se arrisca) e quando indagados sobre as causas de tais acidentes informam que assim o fazem para satisfazer uma necessidade irresistível de sentir dor, ou por sentir que a dor no corpo "é melhor que a dor na alma". As tentativas de suicídio, mais freqüentemente são as de impulso, não planejadas. Estes pacientes possuem baixa auto-estima, se sentem desvalorizados e incompreendidos. Desenvolvem admiração e desencanto afetivo por alguém muito rapidamente. Pequenas rejeições provocam grandes emoções. Menos freqüentes são os episódios psicóticos, que podem acontecer em situações específicas quando se sentirem observados, perseguidos, assediados, etc.
O Borderline corre risco aumentado de fazer compras compulsivas, praticar sexo de risco, comer compulsivamente, aderir a Bulimia, Anorexia, desenvolver Depressão, Distúrbios de Ansiedade, Abuso de substâncias, Transtorno Afetivo Bipolar e outros Transtornos de Personalidade.
A causa provável é uma combinação de vivências traumáticas (reais ou imaginadas) na infância, por exemplo, abuso psicológico, sexual, negligência, abandono, terror psicológico ou físico, separação dos pais, orfandade, vulnerabilidade individual, estresse ambiental. É importante saber tratar-se de condição grave que necessita tratamento intenso e contínuo.
São fatores de bom prognóstico: bons relacionamentos familiares, sociais, afetivos, profissionais, participação em atividades comunitárias: igrejas, clubes, associações culturais, artísticas, baixa ou ausência de auto-agressão, baixa ou ausente freqüência de tentativas de suicídio, ser casado, ter filhos, não ser promíscuo.
O tratamento indicado é a associação de Medicamento e Psicoterapia.
A boa notícia é que o Borderline pode ser tratado. O tratamento inclui medicamentos, terapia e o apoio de familiares. “Os sintomas diminuem com a idade e podem até desaparecer completamente entre os 30 e 40 anos”.

           Prova. Dra Edna Paciência Vietta
                   Psicóloga Clínica. 

O Homem moderno e seu estilo de vida: entre o "ser" e o "ter"


O Homem moderno e seu estilo de vida: entre o “Ter e o Ser”

 ”O Homem , na ânsia de ter, se esqueceu de ser” (Seneca) 
      O mundo moderno, obcecado pela tecnologia, produtividade, consumismo e bens materiais, privilegia os valores da matéria e do corpo em detrimento dos valores da alma. Por isso, é um mundo onde existe pouca ou nenhuma paz. Daí tanta inquietação, tanta pressa, tanto estresse, tantos conflitos.
      A partir do pensamento de Erich Fromm poderíamos considerar a história da humanidade como o embate simbólico entre o “Ser” e o “Ter”, dois verbos que, apesar da proximidade fonética, evidenciam, entretanto, um enorme distanciamento valorativo. Em nossa sociedade tecnocrática, “Ter” se tornou uma disposição hegemônica, comandando as nossas ações e valores através do postulado de que uma pessoa pode ser avaliada por aquilo que ela possui e não por aquilo que ela “é”, isto é, por suas qualidades singulares
      Há quem afirme a era moderna como a idade da Ansiedade, associando a este acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial da modernidade; sociedade industrial. Sentiríamos muito menos sofrimento e inquietações se conseguíssemos o equilíbrio para racionalizar o grau de importância que esses bens de consumo representam em nossas vidas… Consumir é uma forma de ter, e talvez a mais importante da atual sociedade abastada industrial. Consumir apresenta qualidades ambíguas: alivia ansiedades, porque o que se tem não pode ser tirado; mas exige que se consuma cada vez mais, pois o consumo anterior logo perde a sua característica de satisfazer.
      Os consumidores modernos podem identificar-se pela fórmula: Eu sou = o que tenho e o que consumo Vejamos: Você usa tudo que você possui? Dê uma olhada em sua casa, no seu guarda-roupas… você realmente utiliza tudo que compra? Necessita do que compra ou compra apenas para satisfação do seu Ego? Experimente quando se encontrar numa situação de “compra eminente”, se questionar: Preciso realmente disto ou posso viver sem? Talvez você descubra que boa parte do que adquire é desnecessário. E na luta do “ter” em detrimento do “ser” acabamos por não valorizar o que temos. Com isto não queremos dizer que o ter seja desprezível senão que seja bem utilizável para o bem de todos. Um não precisa ser a negação do outro; quem é pode ter e quem tem pode ser. A pessoa pode ter e ser, ou ser e ter sem que haja, por isso, nenhum prejuízo, nem para o “ser” nem para o “ter”.
     Vivemos num momento de rápidas transformações fortes mudanças, de caráter ambiental, social, econômico, científico, cultural e tecnológico, entre outras. Estas mudanças podem nos provocar transformações internas (ex. orgânicas, emocionais, racionais). A escassez de paz, que a linguagem moderna traduz muitas vezes por estresse, é um perigo que compromete a saúde – física, psicológica e mental – e acarreta uma boa parte das doenças contemporâneas.
      A vida mecanizada de hoje, particularmente nos grandes centros urbanos, tende a levar todas as coisas num ritmo frenético. Neste contexto, o autoconhecimento e a intuição podem ser de grande valia, auxiliando-nos na adaptação a este mundo mutante e no direcionamento de nossos potenciais, para que possamos realizá-los da forma mais completa. Buscando um contato maior conosco mesmo, é possível que consigamos conhecer e distinguir melhor nossas emoções (que afetam muito nossas decisões e resoluções de problemas) de nossas intuições, o que pode nos auxiliar a fazer melhores escolhas em nossa vida.
      Precisamos aprender a dominar e acalmar nossos pensamentos. É preciso harmonizar nossa mente e conquistar uma vida calma e tranqüila. Uma mente sempre agitada irá desequilibrar todas as nossas ações, tornando-nos ansiosos, inquietos, irritadiços, compulsivos, expostos a todo tipo de conflito
                           Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                                  Psicóloga Clínica/Ribeirão Preto

Psicossomática: entre a Psicologia e a Biologia





Psicossomática: entre a Psicologia e Biologia



Os chamados "sintomas psicossomáticos", em função de sua natureza, são fenômenos privilegiados para a reflexão sobre as relações entre a mente e o corpo e, portanto, entre a biologia e a psicologia. As doenças psicossomáticas questionam a divisão que se faz entre doenças físicas e psíquicas, como se fossem de natureza diferente. Essa divisão decorre da tradição cartesiana que separa a mente do corpo.
A medicina reconhece que algumas doenças orgânicas têm suas causas relacionadas à vida emocional ou a traumas psíquicos. Por outro lado, é inegável que algumas doenças psíquicas estejam associadas a alterações somáticas, particularmente à atuação de neurotransmissores. Alguns doentes somáticos respondem à psicoterapia, assim como medicações psicotrópicas susta sintomas psíquicos. Portanto, há que se aceder a uma nova ordem epistemológica que supere a tradicional divisão mente-corpo.
Não há mais como se negar a interação profunda entre fatores orgânicos e psíquicos e, portanto, pode-se considerar ao menos em tese que toda doença seja psicossomática."
O uso corrente na literatura médica define somatização como a tendência para vivenciar distúrbios e sintomas que não encontram explicação patológica em exames clínicos e laboratoriais. Como um termo genérico que significa a representação física de uma dor emocional. Essa dor pode ser gerada por conflito, medo, dúvida, ciúmes, inveja, luto ou até mágoa, mas sempre com repercussões no corpo.
Somatizar significa expressar o sofrimento emocional sobre forma de queixas físicas, é transformar problemas de natureza emocional (mal resolvidos) em sintomas ou doenças de natureza física, orgânica ou psicossomática. É, portanto a manifestação de queixas somáticas, sem substrato orgânico, onde se verifica sofrimento psicológico, às vezes intenso, leva como já dissemos em artigo anterior, a pessoa procurar uma confirmação diagnóstica clínica onde , no caso, não existe. Embora pareça repetitivo, o tema da somatização é oportuno no mundo atual, sobretudo, pela presença do estresse da vida moderna, a pressa, a cobrança desenfreada e suas conseqüências somáticas. 
A somatização consiste na manifestação de sintomas físicos em resposta ao estresse emocional. Esses transtornos se expressam sob a forma de queixas (e quem não as tem?) como, dores de estômago, de cabeça, cansaço, dores no peito, dificuldades respiratórias, taquicardia, palpitações, problemas dermatológicos. Entre os exemplos mais comuns estão as síndromes depressivas e ansiosas como o pânico, as fobias. 
Os somatizadores tendem a ser preconceituosos quanto a problemas de natureza psicológica ou emocional, por esse motivo, podem apresentar um curso crônico de doença, o que pode levá-los a grave comprometimento funcional e precária qualidade de vida. .
O conceito de somatização tem sido utilizado com freqüência no meio médico e psiquiátrico, embora sua clara significação permaneça obscura para muitos dos seus usuários.
 A existência de outros conceitos, embora distintos, mantêm correlações, entre os quais podemos citar a conversão, transtornos somatoformeshipocondria e as chamadas “doenças psicossomáticas”,
É um distúrbio tão freqüente e frustrante para o pacientes, uma vez que as pessoas de seu convívio acabam desconsiderando suas queixas, por vezes repetitivas ou reincidentes. Assim,a somatização pode comprometer a qualidade de vida do paciente e seu relacionamento familiar, profissional e social devendo ser abordada com embasamento científico adequado.
O primeiro princípio na condução destes pacientes é compreender seu sofrimento e desenvolver uma atitude de acolhimento e compreensão. Do ponto de vista médico, os sintomas podem parecer exagerados e as queixas, irracionais, mas o sofrimento apesar de um fenômeno subjetivo - quase sempre é verdadeiro. A incapacidade de reconhecer este sofrimento pode ser interpretada pelo paciente como indiferença, rejeição ou "banalização" de sua doença. Portanto, se você convive ou identifica alguém de sua família com tais características à melhor atitude é procurar compreender seu sofrimento e tentar convencê-lo a procurar ajuda profissional.


      Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
            Psicóloga Clínica


Luto e Melancolia

Luto e melancolia

       É notório que a consciência da finitude é um fato perturbador para o ser humano, mas é parte de sua condição humana, ou seja, é peremptório, não há como fugir. A perda de um ente querido é dor profunda porque dói na alma do ser. Freud não deixou de trazer luz ao tema, ao escrever sobre Luto e Melancolia.
       Em Luto e melancolia, Freud compara a experiência do luto ao que em sua época era chamada de “melancolia” e hoje é identificado como “depressão”. No luto, a perda de um ente querido faz com que sintamos um “vazio” temporário em nossos afetos. Ao longo tempo, recuperamos a capacidade de redirecionar nossos afetos. No estado melancólico, a experiência da perda tem a mesma dimensão, mas não se sabe o que se “perdeu” e nem o porquê, ou seja, o processo de perda é inconsciente.
       Nesta obra Freud mostra os efeitos da perda de um objeto sobre o Ego. Não ficamos de luto somente quando morre alguém importante para nós. Ficamos de luto quando perdemos ou nos separamos de algo que nos é significativo, alguma coisa (pessoas, animais, objetos, situações, sonhos, emprego, etc.) que nos são caros. Freud diferencia o luto da melancolia ressaltando o aspecto natural e compreensivo do primeiro e a inconformidade do segundo onde o sujeito sofre a perda, mas não sabe exatamente o motivo (o objeto talvez não tenha morrido, mas tenha sido perdido enquanto objeto de amor).
       Além dos sintomas presentes no luto (traços de desanimo profundo, perda de interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar e inibição de atividades). Na melancolia os sintomas são os mesmo, porém acrescido da perturbação na auto-estima e de um empobrecimento do Ego, que no luto se encontra ausente. Ainda, na melancolia, a perda do objeto se mostra mais grave e muito mais ameaçadora para o Eu. Assim, a diferença entre ambas é marcada pelo fato de que, no caso da melancolia, a dependência do homem em relação ao objeto perdido se dá de forma incompreensível tornando-se patológica. Embora o luto também seja muitas vezes incompreendido pelo enlutado, se constitui condição normal não necessitando de tratamento psicológico na medida em que é superado ou elaborado num período de tempo determinado, enquanto na melancolia o tratamento se faz necessário. Por ser o luto circunstância superável, ao longo do tempo, Freud julgava ser inútil ou até mesmo prejudicial qualquer interferência em relação a ele.
       Se no luto o mundo torna-se vazio e insignificante, na melancolia o próprio Eu torna-se insignificante. Quando esta insignificância atinge o doente com um poder de autocrítica que o faz descrever a si mesmo como “mesquinho, egoísta, pouco sincero, sem autonomia, que sempre se empenhou em esconder as fraquezas de seu ser, ele pode, ao que sabemos estar bastante próximo do autoconhecimento [...]”.(Freud, p. 106).
       Para Freud o desinteresse pelo mundo externo em ambos os casos é causado pelo fato de que o indivíduo não invoca mais o objeto perdido,  pela perda da capacidade de adotar um novo objeto de amor para substituir o que foi perdido e pelo afastamento de atividades que não estejam ligadas a pensamentos sobre esse objeto
       A melancolia tem natureza patológica e fraciona-se em diversas formas clínicas, inclusive no que se refere à mania, que seria seu polo oposto, de onde a bipolaridade, isto é, a oscilação entre a depressão e a euforia. Em resumo, enquanto, no luto a perda é consciente; na melancolia, a perda se processa no inconsciente.
       Portanto, o luto profundo e a melancolia têm em comum a dor, entretanto, deveríamos ressaltar que, se para o enlutado a dor passa, ao contrário do luto, na melancolia a dor torna-se crônica.
       É comum, também, na melancolia o aparecimento de sintomas físicos pela identificação com o sofrimento do objeto perdido. Por esse mesmo motivo e pelo sentimento de ambivalência entre amor e ódio do objeto perdido o melancólico pode ser levado ao suicídio. Daí a importância do tratamento psicológico e medicamentoso.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica   

Psiconeuroimunologia: emoções e saúde



PSICONEUROIMUNOLOGIA: EMOÇÕES E SAÚDE




Psiconeuroimunologia: emoções e saúde
     Quantas pessoas depois de uma forte emoção ficaram doentes? Após situações de luto, acidente, perda de estabilidade, separação, mudança de escola ou até mesmo ao conseguirem passar num concurso, obter novo emprego ou ao se aposentar? Inúmeras pessoas passaram por essa experiência e muitas delas desenvolveram desde um simples resfriado até uma doença crônica. Na verdade, somos, em grande parte, responsáveis por nossa saúde física e mental. Nossos pensamentos, principalmente os mais negativos ou disfuncionais, como tristeza, raiva. medo, ódio, baixa auto-estima, rejeição, ciúme, vontade de fugir (dentre outros), em geral incitam estados de desconforto orgânico.
     A sabedoria Chinesa costuma dizer que a cada órgãos vital responde de forma diferente um tipo específico de emoção. Assim, a Alegria está ligada ao Coração e ao Intestino, a preocupação ao Baço e ao Estomago, a Tristeza aos Pulmões e Intestino Grosso, o Medo ao Rim e a Bexiga, a Raiva ao Fígado e a Visícula Biliar. Pela medicina ocidentais sabemos que, quando algum desses sentimentos agride nossa unidade funcional , o órgão correspondente, adoece. Basta passar por uma situação difícil, estressante ou problemática que o corpo manifestas sinais de alerme: a cabeça dói, o resfriado aparece, a digestão se complica, a respiração fica difícil ou a pele se enche de alergias, etc. O fato não é uma simples coincidência, mas um processo chamado pela medicina de somatização, ou seja, a transferência para o corpo do que deveria ser vivido e suportado apenas na mente.Assim, cada vez que uma pessoa não consegue suportar no plano psíquico uma situação, ela acaba produzindo ou agravando sintomas e/ou doenças que se manifestam no corpo.
     Já há alguns anos vem-se estudando como as emoções podem se inter- relacionar com o nosso sistema imunológico, ou seja, como os fatores psicológicos influenciam nosso estado de saúde. Mas atualmente a ciência que estuda esta área vem ganhando crédito – é a psiconeuroimunologia. Este termo foi criado em 1975 pelo Dr. Robert Ader, da divisão de Medicina Comportamental e Psicológica da Universidade de Nova York, pois ele acreditava haver uma ligação entre o nosso estado mental, nossa saúde e nossa capacidade de auto-cura. Esta ciência estuda a relação entre as ações do nosso sistema nervoso, do sistema endócrino, do sistema imunológico, do psiquismo e como todos estes sistemas implicam na saúde em geral.
     O nosso sistema nervoso regido pelo cérebro e por suas ramificações pelo corpo comanda reações químicas que influenciam os nossos hormônios e as nossas células de defesa mantendo assim, o equilíbrio do nosso organismo chamado de homeostase. Os nossos sentimentos fazem com que estas reações se acelerem ou ocorram mais lentamente causando as euforias ou depressões dos nossos sistemas. Quando as emoções se normalizam, a resposta orgânica também se equilibra.
     A homeostase pode ser definida como o processo de equilíbrio necessário para a manutenção da vida. O problema aparece então, quando não conseguimos lidar com estas emoções e elas passam a interferir nos mecanismos bioquímicos, levando às descompensações e instabilidade – é quando surgem as doenças.
     Já existe uma fisiologia propondo um sistema mental que envolve o sistema nervoso, o sistema endócrino e o sistema imunológico, estabelecendo as bases da psiconeuroimunologia, a qual sustenta teoricamente a bioquímica das emoções. Já se pesquisa, também, como os pensamentos e as emoções alteram os parâmetros biofísicos do Ser e, como as tensões musculares, a alimentação correta, a respiração correta e a correção de posturas físicas, influenciam na dimensão emocional e mental do Ser.
     O controle das emoções é vital, sobretudo, para garantir a saúde orgânica. Não é possível ter uma experiência emocional contínua sem resposta do corpo. Somos tomados por uma emoção quando sentimos que algo põe em risco nossa vida e os recursos do cérebro são convocados para resolver o problema.
      O desenvolvimento emocional é influenciado pela hereditariedade e pela aprendizagem. A constituição individual é um fator determinante na sensibilidade do sistema nervoso autônomo, no grau da resposta visceral e no padrão de difusão das reações viscerais. Os estímulos externos que causam as reações emocionais, o significado que damos a essas reações e a maneira pela qual nós as expressamos são resultado da aprendizagem.
                                                        Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                                                                   Psicóloga Clínica

Oração e Fé: seus efeitos na saúde


                                      ORAÇÃO E FÉ: SEUS EFEITOS NA SAÚDE



      Oração e fé: seus efeitos na saúde.A oração é, com certeza, independentemente da razão pela qual é praticada, a expressão mais universal de confiança e fé em um Ser Superior. Apenas no fim do século passado e, principalmente, no início deste é que o ato de orar, ao alcance de qualquer mortal, tornou-se objeto de pesquisa.
      Dr. Jeff Levin uma das maiores autoridades mundial, epidemiologista formado em Teologia, Sociologia, Saúde Pública e Medicina Preventiva docente na universidade do Texas e na Universidade de Michigan, um dos principais cientistas do mundo no que se refere aos estudos sobre a relação entre as práticas religiosas ou espirituais e sua relação com a saúde, pesquisador do National Institute for Health care Research, afirma que resultados obtidos nas pesquisas realizadas nessa área não deixam dúvida de que fé e oração realmente ajudam as pessoas a se curar.
      Basicamente, o que os pesquisadores descobriram é que a oração é um instrumento real, efetivo, para ajudar na cura das pessoas, e que os efeitos positivos das orações na saúde já podem ser identificados e medidos.
      Médico e pesquisador Herbert Benson, conceituado médico da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, pesquisando os efeitos de vários métodos alternativos sobre doenças e a saúde, entre elas a fé e a oração publico, em seu livro Timeless Healing, que a oração, desacelera o metabolismo, reduz o ritmo cardíaco e respiratório, prolonga a freqüência das ondas cerebrais, diminui a pressão sanguínea, proporcionando sensação de paz e tranqüilidade, melhorando o estado de saúde em geral.
      Por meio da tecnologia de Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton Único (em inglês, SPECT), percebe-se uma diminuição do fluxo sanguíneo no lobo parietal superior, região do cérebro situada na parte de trás do crânio e responsável pela orientação no espaço e no tempo. Estudos nessa área, abriu a perspectiva segundo a qual o Ser Humano teria sido dotado de áreas no cérebro dirigidas para a comunicação com Deus.
      No Brasil, pesquisa feita pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), do Rio de Janeiro, constata que pessoas com temperamento forte quando convertidas se tornam mais tolerantes, se comportam melhor nos diferentes papéis que desempenham como os de pais, cônjuges, filhos, tornando-se mais dedicadas, menos egoístas, abandonando vícios da bebida, drogas, intensificam sua preocupação com o próximo, melhorando a percepção do outro, suas relações no trabalho, irradiando simpatia e mais ação no sentido de fazer algo para ajudar as pessoas.
      A verdade é que a fé leva a pessoa a rever valores, padrões morais e a se tornar uma pessoa melhor.
      O homem é uma unidade bio-psico-sócio-espiritual.
      A dimensão biológica refere-se aos aspectos físicos do corpo: anatomia, a fisiologia, os sistemas muscular, digestivo, ósseo, hormonal, respiratório, as funções e disfunções dos diversos órgãos, a inter-relação desses sistemas. As necessidades fisiológicas estão aqui incluídas.
      A dimensão psicológica refere-se aos aspectos ligados à personalidade do ser humano, manifestada no comportamento motivado por instâncias conscientes, pré-conscientes e inconscientes. Incluem-se nesta dimensão o pensamento, a memória, o raciocínio, o contato e a expressão de sentimentos, emoções, desejos, vontades, necessidades de segurança, de auto-estima, de realização.
      A dimensão social diz respeito aos aspectos ligados à vida em grupo, enfocando os fatores econômicos, políticos, ideológicos e culturais. Esta dimensão inclui, necessariamente, a interação e, conseqüentemente, todos os fenômenos que acontecem na interação entre pessoas e grupos. A necessidade de associação, de uma vida social está aqui incluída.
      Orar é parte da natureza espiritual do ser humano. A dimensão espiritual relaciona-se ao sentimento de pertencer ao mundo, de ser uma parte do Universo, à noção da existência de forças maiores que o entendimento não pode ou tem dificuldade de apreender; é uma dimensão que ultrapassa a matéria tal como a conhecemos.
      No contexto atual de crises e de mudanças e transformações profundas, onde a fé é questionada, onde não é apenas a teologia que as pessoas querem abandonar, mas também a ética, a moral e os costumes, compete-nos como profissionais, em nossa responsabilidade social, refletir, também, sobre essa questão e suas influências na saúde, na doença e na convivência humana, na verdadeira espiritualidade que deve ser um dos desafios de todo cidadão deste planeta.

                     Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                     Psicóloga Clínica/Ribeirão Preto