domingo, março 31, 2013

Virtudes, Saúde e Sucesso


                                             
      
                                 Virtudes, Saúde e Sucesso.     
Sossego, tolerância, paciência, calma e confiança são virtudes sempre em falta naqueles que apresentam problemas e que procuram ajuda psicológica. Dificilmente um paciente que procura ajuda emocional não reclama da falta que estas virtudes lhe causam no relacionamento familiar, profissional e social. “As queixas constantes são manifestadas por frases do tipo: “Não consigo tolerar meu marido”. “Não suporto trabalhar com o meu chefe”, “não tenho paciência com meu filho”; “Vivo estressado”, “Não tenho paciência com minha sogra”. “Estou prestes a perder meu emprego por falta de controle”.
Embora se coloquem como a causa e admitam a falta dessas virtudes, acreditam que o problema está sempre no outro, no marido, no filho, no chefe, na sogra, no vizinho, enfim, fora dela, nas coisas, pessoas ou situações. É lógico que o problema pode estar também na forma de reagir e se comportar do outro, mas é preciso refletir o que em nós produz a reação no outro. Na verdade, nossa paz interior depende primeiramente do conhecimento que temos dos nossos próprios valores, crenças, sentimentos e emoções, ou seja, da relação do sujeito com ele mesmo.
Tolerância, serenidade, mansidão, paciência são virtudes que nos levam ao entendimento. Agir com calma é agir com sabedoria. Basta avaliar com inteligência quando uma situação pede intervenção imediata e firmeza ou, quando uma situação pode ser resolvida de maneira mais serena e tranqüila. Isto não quer dizer que devemos estar sempre em posição estável ou indiferente diante de circunstâncias desfavoráveis ou adversas, que o melhor é permanecermos na zona de conforto, que devemos nos conformar com tudo, que nunca poderemos alterar nosso humor.
A conseqüência da falta de calma é uma mente agitada, ansiosa, inquieta. É lógico que, às vezes, temos que agir rápido para darmos conta de responsabilidades ou até mesmo para salvar vidas, mas agir com rapidez não é o mesmo que agir com pressa. A rapidez é ágil, a pressa é afobação, precipitação.
Se você leu a Bíblia, provavelmente vai se lembrar de um trecho de Isaías que diz “... na quietude e confiança reside vossa força...”.
 É na quietude e na calma interior que conhecemos as grandes verdades da vida.
O homem pós-moderno tem sido estimulado emocionalmente mais do que qualquer outro da história humana, e em conseqüência disso, sua mente anda muito agitada e inquieta. O homem tem perdido a calma por muito pouco. Por motivos banais tem se tornado violento.
“A excitação constante do sistema nervoso tem produzido pessoas extremamente “apressadas”, “inquietas”, “intolerantes”, impacientes” e “ansiosas”.
Até por uma questão biológica, podemos afirmar que a ansiedade sempre esteve presente na humanidade desde as cavernas até a nave espacial. A novidade é que só nos demos conta da quantidade, tipos e efeitos dessa ansiedade sobre o organismo e sobre o psiquismo humano, com as concepções da prática clínica, da medicina psicossomática e da psiquiatria.
A grande verdade é que o equilíbrio emocional é extremamente importante para tomarmos decisões acertadas na nossa vida. O nosso equilíbrio emocional dependente do conhecimento que temos dos nossos estados internos e da influência que estes têm sobre os nossos pensamentos, comportamentos e atitudes. 
“Estudos desenvolvidos nas universidades de Harvard, de Stanford e na Fundação Carnegie revelam que 15% das razões pelas quais alguém conquista um emprego, mantêm-se nele ou consegue uma promoção é determinado pela sua qualificação técnica. Nos demais 85% dependem diretamente do equilíbrio emocional – da habilidade para comunicar-se e relacionar-se com os outros, de manter-se calmo, ter tolerância, segurança, etc.” Especialmente nas empresas em que o ambiente se caracteriza por pressão e resultados, competitividade, convivência com diversidade e segurança, torna-se imprescindível saber administrar emoções.
Manter um controle emocional equilibrado, sem perder a calma, ao longo do tempo, consiste basicamente em saber lidar com nossas emoções, enfrentar com tolerância os erros alheios e superar fatos imprevistos e/ou indesejáveis. É suportar as dificuldades de toda ordem e não perder a capacidade de confrontá-las e resolvê-las com sabedoria e tranquilidade. É a capacidade de ser perseverante, saber esperar com paciência e quietude o momento certo para tomar decisões, de se libertar da ansiedade buscando o controle, o equilíbrio e a paz interior.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
             Psicóloga Clínica

segunda-feira, março 25, 2013

Enfrentar Angústias ou Somatizá-las: eis a qustão



                               Enfrentar angústias ou somatizá-las - eis a questão


 


Somatização, basicamente, é uma manifestação de conflitos e angústias psicológicos por meio de sintomas corporais. Lipowski (1988) propõe que a somatização “é uma tendência que o indivíduo tem de vivenciar e comunicar suas angústias de forma somática, isto é, através de sintomas físicos que não têm uma evidência patológica, os quais atribuem às doenças orgânicas, levando-o a procurar ajuda médica”. Acredita que tal tendência geralmente se manifesta em resposta a estresses psicossociais como eventos de vida e situações conflitivas. Não obstante, esses pacientes geralmente não conseguem relacionar suas angústias com questões psicossociais quando não, negam explicitamente tal possibilidade.
O médico vê-se pressionado a efetuar muitos exames físicos e análises para determinar se o cliente tem uma perturbação física que explique os sintomas. As inter-consultas com especialistas são freqüentes, mesmo quando a pessoa tenha desenvolvido uma relação razoavelmente satisfatória com seu médico.
Indivíduos com transtorno de somatização costumam passar longos períodos internados fazendo exames, mas nenhum deles explica satisfatoriamente seus sintomas.
Se após alguns exames e consultas médicas, nenhuma doença for detectada, há grande chance de o diagnóstico apontar para um transtorno psicossomático, também conhecido como somatização. A somatização é uma doença de fundo emocional e invariavelmente pode refletir fisicamente, com taquicardias, síndrome do pânico ou ataques de ansiedade.
O estresse e a ansiedade são os principais fatores no aparecimento, na manutenção ou repetição de uma doença física, porque alteram o funcionamento de vários sistemas do nosso organismo, liberando ou inibindo a produção de substâncias, como adrenalina, cortisol e serotonina.
Sabe-se hoje, que os estados psíquicos como estresse, depressão, ansiedade, medo, raiva, etc., favoreçam o desenvolvimento e/ou a manifestação de doenças orgânicas como úlceras, colites, problemas cardíacos, alergias, doenças da pele e até mesmo o câncer.
Segundo Volp, J.H (2005), o corpo sente, aprende, se disciplina, se condiciona e expressa os conflitos emocionais da mente, corporificados nos tecidos celulares, refletidos na qualidade do tônus muscular, expressões faciais, ritmo respiratório, postura, tom de voz, etc. Portanto, nosso corpo é moldado de acordo com as experiências vividas, principalmente aquelas ocorridas na primeira infância, quando as formas que encontramos para nos defender ainda são precárias. Esses acontecimentos muitas vezes deixam marcas profundas e irreversíveis.
Estudos mostram que existem traços de personalidade comuns àqueles que tendem a somatizar. São, em geral, pessoas muito pragmáticas, com reduzida capacidade de fantasiar, dão pouco espaço para elaboração psíquica, pouca capacidade de imaginação, de sonhar. Têm o que se chama de pensamento operatório. "Para eles pau é pau e pedra é pedra", tem pouco contato e tempo para suas questões psicológicas.
 Vêem as coisas de forma tão concreta que lhes parece mais simples viver os conflitos no corpo do que problematizá-los no psíquico.
 Nem crianças escapam da somatização. Como elas têm as defesas psíquicas menos estruturadas, não é difícil que apresentem febre, falta de ar ou diarréia quando passam por algum tipo de sofrimento.
Portanto, constantemente somos confrontados com dois caminhos: ouvir nosso corpo e deixá-lo falar em seus desejos e expressar suas angústias, ou submetê-lo aos estresses físicos e psicológicos diários que a vida nos traz, formando assim as couraças.
Os somatizadores estão entre os principais usuários do sistema de saúde: 60% das consultas médicas referem-se a pacientes com queixas sem nenhuma causa orgânica. As principais reclamações são: Dor no peito, Fadiga, Tontura, Dor de cabeça, Dor nas costas, Falta de ar, Taquicardia, Insônia, Dor abdominal.
Certas doenças têm um componente fortemente somático. É o caso de asma, úlceras, fibromialgia, gastrite, alergias e herpes, principalmente. As situações que mais deflagram respostas somáticas são as de estresse decorrente perdas diversas por luto ou perda afetiva, separação conjugal, perda de emprego, aposentadoria, perda financeira, etc.
As explicações puramente biológicas da doença têm sido questionadas em diversos estudos que evidenciam a influência da mente e das emoções, nos estados de saúde. Sabe-se, hoje, que o sistema nervoso autônomo, responsável pela coordenação do funcionamento de todos os órgãos internos, é regulado pelo sistema límbico, que por sua vez é afetado pelas experiências afetivas e emocionais do indivíduo em seu contexto social.

                        Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                                              Psicóloga Ribeirão Preto

segunda-feira, março 11, 2013

A Tampa e o Balaio



A TAMPA E O BALAIO




                                       

                                                                 A Tampa e o Balaio
Temos observado na clínica, com certa freqüência que alguns pacientes apresentam um padrão repetitivo de comportamento afetivo no qual a escolha do parceiro ou parceira determina sempre relacionamentos complicados.
Estes pacientes apresentam características de pessoas co-dependentes, inseguras, críticas, desconfiadas, ciumentas, possessivas e pessimistas, não necessariamente todas essas característica, mas a maioria destas. Conversando com elas logo identificamos queixas do tipo “isso só acontece comigo”, “só atraio pessoas problemáticas”. Em situações de escolhas ou decisões tais pessoas dizem se sentir reduzidas a poucas alternativas do tipo “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Seus relacionamentos são instáveis, baseados na desconfiança, apresentam uma espécie de atração por pessoas complicadas, geralmente muito parecidas em termos de carência afetiva ou com problemas análogos ou com o seu oposto.
Nos contatos do dia-a-dia, tudo favorece para que as atividades desenvolvidas por tais pessoas não aconteçam na normalidade, em outras palavras, há sempre algo dificultando ou impedindo seu desempenho normal. Sem se dar conta, uma palavra basta para gerar em torno delas, polêmicas, conflitos e auto-reprovação do tipo: “isso só acontece comigo”, “só podia ser comigo”, “porque não calei a minha boca”, “só arranjo confusão”, etc
Essas pessoas chegam a desenvolver um tipo de relacionamento onde impera a dominação/submissão, coação/hostilidade, chantagem/vitimação. O relacionamento se torna um tipo de teste. O outro tem sempre que estar dando provas de amor. O padrão é sempre o mesmo, e a pessoa não percebe sua carência, imaturidade, insegurança, ciúme, pessimismo, baixa auto-estemas. Habitualmente são pessoas teimosas, persistentes em seus erros, inflexíveis em suas posturas e opiniões, sempre se achando com a razão, às vezes, agressivas, descontroladas, muitas vezes impulsivas quando não arrogantes (não necessariamente com todos esses quesitos). Por seu comportamento excêntrico acabam sendo discriminados, isolados dos demais, aborrecidos, mal humorados, sendo geralmente escolhidos como “bodes expiatórios” de grupos em seu entorno.
Na verdade, boa parte da população busca parcerias neste tipo de relacionamento. A situação se agrava quando esse tipo de relacionamento se concretiza na escolha amorosa, ou seja, pessoas se unem onde ambas apresentam esse mesmo padrão de comportamento. Quando isso acontece fica claro a busca de satisfação de necessidades mútuas doentias de ambos. É comum casais neste padrão perceber sua incongruência, porém, persistirem num relacionamento destrutivo. Esta situação chega a tal ponto de se desenvolver uma relação tipo sado-masoquista onde um sente prazer em magoar o outro.
Na vida dessas pessoas, chamadas co-dependentes, encontram-se geralmente histórias de pais ausentes, carências afetivas na infância, ambientes familiares hostis, conflitos freqüentes entre os pais, crianças que receberam mensagens dúbias como “te amo por isso te maltrato”, ”te faço sofrer, mas um dia você vai me agradecer”.
O co-dependente apresenta dificuldade em refletir sobre seus sentimentos: medo de amar e de se doar verdadeiramente, medo de perder o afeto das pessoas, de ser abandonado, de ter solidão
Neste tipo de relacionamento todos sofrem. A dinâmica familiar se estabelece de forma doentia, numa espécie de simbiose.
O co-dependente se sente incompleto, busca no outro o que lhe falta e geralmente consegue o seu intento, é o popular “a tampa e o balaio” Vivem um “amor bandido” e vão se tolerando entre tapas e beijos, até que o relacionamento se desgasta e ai ou se separa ou vive no tormento.
É possível evitar tudo isso? Na verdade muitos relacionamentos acabam sendo desastrosos se a pessoa não tem autoconhecimento, é preciso primeiramente se cuidar emocionalmente, entendendo em que base faz suas escolhas. Para isso se faz imprescindível o autoconhecimento. A psicoterapia pode beneficiar na quebra destes padrões de repetição, interrompendo a ocorrência de comportamentos repetitivos que impedem o desenvolvimento saudável.  
                                        Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                                            Psicóloga Ribeirão Preto

domingo, março 03, 2013

O Equilíbrio está no meio termo


               O equilíbrio está no meio termoPadrão

“A principal  coisa na vida é não ter medo de ser humano” ( Pablo Casals)
O psiquiatra argentino Hugo Marietán define a pessoa perfeccionista como aquela que se esforça para melhorar o êxito de seu objetivo seguindo um padrão ideal. São pessoas que tendem dar importância exagerada a tudo e nunca se sentem satisfeitas. Ocupam-se mais do que necessário em pequenas tarefas e tendem a ficar com a sensação de que poderiam ter feito ainda melhor.
Se você for um perfeccionista, é provável que você  tenha aprendido cedo na vida que as pessoas  sempre a avaliariam pelo quanto você realizaria ou conseguisse. Em conseqüência disso, você pode ter aprendido a avaliar-se somente na base da aprovação das outras pessoas. Assim sua auto-estima pode estar sendo baseada primeiramente em padrões externos. Isto pode deixá-la vulnerável e excessivamente sensível às opiniões e as criticas dos outros. Na tentativa de  proteger-se de tal criticismo, você pode decidir que ser perfeito é sua única defesa.
O perfeccionismo ao qual nos referimos é aquele que nos desgasta, levando-nos a uma série de problemas em nível pessoal, conjugal, social, profissional, etc. está relacionado a arrogância e ao medo de errar, ou seja, para o perfeccionista tudo deve ser perfeito, ele não admite erro,  mudanças. Geralmente, defende sua posição analisando somente a dicotomia perfeição-displicência. É 8 ou 80. Sim ou não. Para o perfeccionista não tem meio termo. É tudo ou nada. Não raro, está mais preocupado em manter as aparências, em se mostrar superior. Nesta conotação o perfeccionista jamais admitirá que sua verdadeira preocupação seja com a opinião alheia, há um medo de que suas falhas sejam expostas, de que descubram que ele é tão normal quanto qualquer ser humano. O ideal é encontrar um equilíbrio.
Segundo Gordon L. Flett, professor de psicologia da York University e autor de diversos estudos a esse respeito, “É natural que as pessoas queiram ser perfeitas em algumas coisas, por exemplo, no trabalho. Para ser um bom editor ou cirurgião é importante não cometer erros”, “Mas você começa a enxergar problemas reais quando isso se generaliza para outras áreas da vida, ou seja, a vida familiar, a aparência, os hobbies.”
O perfeccionista espera que todos ao redor sejam perfeitos e se incomoda quando não consegue aplicar aos outros suas regras de disciplina.  À primeira vista o perfeccionismo parece ser algo positivo, pois ele pode ser usado como uma força propulsora para o bem.  As pessoas de seu convívio, muitas vezes, não conhecem suas expectativas, o que gera tensão com familiares, amigos e colegas, além de um grande sentimento de raiva.
Em geral, o perfeccionista é detalhista, meticuloso e caprichoso em suas ações.
A sociedade normalmente valoriza alguns traços comuns ao perfeccionista, como, por exemplo, a responsabilidade, a pontualidade, o esmero e assim por diante. No passado, o perfeccionismo era até visto como um aspecto positivo e acreditava-se que ele contribuiria para o sucesso profissional das pessoas. Contudo, o problema do perfeccionismo vem à tona quando o seu possuidor não atinge o alvo proposto para si mesmo. Além do mais, a busca do resultado perfeito pode interferir negativamente nas realizações profissionais do perfeccionista, pois se gasta tanto tempo em revisões que a produtividade fica comprometida.
O universo pessoal do perfeccionista pode ser tomado por frustrações contínuas, o que o conduz a um estado de tristeza, culpa e até mesmo autodesprezo.
Há dois tipos de perfeccionistas. O primeiro é o introspectivo, ou seja, aquele que apresenta pouca auto-estima e confiança própria e para quem qualquer erro equivale à desaprovação dos outros. O segundo é o extrospectivo, ou seja, aquele que não apresenta baixa auto-estima, porém, não confia nas habilidades ou capacidades dos outros ao seu redor. Logo, este segundo tipo não consegue delegar e exige sistematicamente das outras pessoas a perfeição que requer de si mesmo.
A busca da perfeição é diferente de ser perfeccionista. Estar sempre buscando melhorar é muito bom, mas admitir que somos imperfeitos é sermos humildade, é saber que podemos errar.
O Sábio Rei Salomão disse “não sejais demasiadamente sábio; porque te destruirias a ti mesmo? Ecl7:16. Em psicologia a verdade, ou, o equilíbrio está no meio termo.
Profa Dra Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica

sábado, março 02, 2013

Compulsão alimentar periódica (TCAP)


                           Compulsão alimentar periódica (TCAP).
                                       
Compulsões ou comportamentos compulsivos são hábitos aprendidos, que surgem por carência, frustração ou pela necessidade imperativa de gratificação emocional (alegria, satisfação, prazer, etc.) São hábitos que com o tempo tornam-se automáticos, ou seja, a gratificação que segue ao ato compulsivo, seja ela de prazer ou alívio de tensões e ansiedade, reforça a pessoa a repeti-lo. O comportamento compulsivo se caracteriza por uma pressão interna que, em determinadas situações, faz com que a pessoa se sinta impelida, tomada por desejo muito forte, a realizar uma ação que gera prazer momentâneo seguido por sentimento de culpa, arrependimento e mal-estar.
Na realidade a pessoa que sofre de compulsão alimentar periódica não come por estar com fome, mas por puro impulso. Este ataque de comer exageradamente é conhecido pelo termo “Binge eating”. A característica deste episódio é a
vontade de comer algo - comer muito rápido, exageradamente se necessário escondido até acabar a comida - se empanturrar - arrepender - sentir raiva de si mesmo - se deprimir...
No caso da compulsão alimentar periódica a pessoa não tem controle, come vorazmente, sente-se arrependida, mas não se utiliza de recursos como vomitar (depois de comer muito), usar laxantes ou praticar exercícios físicos para perder calorias.
Trata-se de um comportamento incontrolável que leva os pacientes a ingerir quantidades exageradas de alimentos em um curto espaço de tempo. No entanto, para ser diagnosticada como uma síndrome o ataques de comer (Binge eating) deve ocorrer com uma freqüência mínima de duas vezes por semana.
As pessoas com este transtorno apresentam freqüentes crises, durante as quais sentem que não podem parar de comer. Comem depressa e às escondidas, ou não deixam de comer o dia todo. Apesar desses pacientes se sentirem culpados e envergonhados por sua falta de controle, eles não apresentam atitudes compensatórias e compulsivas (vômito, laxantes...) típicas dos pacientes com Bulimia. Normalmente eles têm um histórico completo de fracassos em diversas dietas e regimes para emagrecimento. Normalmente são pessoas depressivas e obesas.
O “Binge eating” é muito semelhante a outros transtornos alimentares como a Bulimia, sendo, muitas vezes, confundido com esta, por leigos e pelo senso comum. Porém a grande diferença entre ambas é o fato que na bulimia os pacientes têm necessidade de vomitar depois de ter comido bastante. A conseqüência disso é a facilidade e a rapidez de ganhar peso, e conseqüentemente, todos os problemas associados à obesidade.
Durante os ataques de “Binge eating”, o compulsivo chega a ingerir até dez mil calorias em uma única refeição, tem preferência por guloseimas e se não tiver, come quaisquer coisas: uma lata de leite condensado, feijão gelado com queijo, lasanha gelada e tudo que estiver ao seu alcance.
O assalto à geladeira durante a noite, também é característica da compulsão alimentar, um problema que atinge até 4% da população geral e 6% dos obesos – podendo alcançar metade dos indivíduos mórbidos, segundo dados da Associação Americana de Psiquiatria.
Não se sabe ainda se esta é uma nova doença alimentar ou apenas um sintoma que pode estar associado a algum outro transtorno alimentar ou a outras patologias emocionais, como depressão atípica, ansiedade, transtorno do controle dos impulsos ou algum dos transtornos do espectro impulsivo-compulsivo.
De qualquer forma o fenômeno merece toda consideração, já que aparece em aproximadamente 2% da população geral e, particularmente, em cerca de 30% dos obesos que procuram tratamento médico.
O estresse é um fator que pode levar ao aumento das compulsões alimentares. Durante situações estressantes, o cortisol é liberado estimulando a ingestão de alimentos e o aumento do peso (Gluck, 2001).
Como na maioria dos casos, a compulsão alimentar está associada à condição psicológica, os tratamentos indicados são acompanhamento psicológico, aconselhamento dietético e, se necessário, psiquiátrico e medicamentoso, voltados para o controle da ansiedade. Alguns antidepressivos têm sido utilizados no tratamento da compulsão alimentar como inibidores seletivos da recaptação da Serotonina. Todavia, o tratamento não pode ser resumido à medicação, já que, pensar o tratamento nesses casos é um movimento multidisciplinar, onde os esforços se unem no sentido de melhorar a relação que o indivíduo tem com o alimento e as formas que encontra de lidar com as frustrações e ansiedades.
            Profa Dra. Edna Paciência Vietta
               Psicóloga Clínica