sexta-feira, setembro 21, 2012


NEUROSE E PSICOSE



                                          

Nosso objetivo em publicar artigos relacionados à temática psicológica tem sido o de compartilharmos conhecimentos científicos em linguagem popular, utilizada no cotidiano das pessoas, visando contribuir para informação e detecção precoce dos transtornos emocionais e mentais. Procuramos nos ater às questões que nos fazem no consultório, ou mesmo socialmente, para refletirmos e escrever procurando nos ater às dúvidas mais relevantes para esse entendimento. Percebemos a existência de muitas dúvidas sobre a diferença entre Neurose e Psicose, daí escolhermos para o tema de hoje esse esclarecimento.

Os sentimentos dos neuróticos são normais; eles amam, sentem alegria, tristeza, raiva, etc., como qualquer pessoa. É a quantidade desses sentimentos e a forma de reagir aos estímulos que são desproporcionais. Os neuróticos ficam mais ansiosos, mais angustiados, mais deprimidos, mais sugestionáveis, mais teatrais, mais impressionados, mais preocupados, com mais medo, enfim, eles têm as mesmas emoções que qualquer pessoa, porém, em quantidades que comprometem a sua adaptação. Assim, um neurótico fóbico, por ex, pode sentir intenso medo ante uma situação ou um objeto que ele saiba não representar nenhum perigo. Os neuróticos percebem e julgam a realidade como todo mundo, mas reagem a ela de forma diferente. Essa característica os distingue dos psicóticos, que exibem uma alteração do juízo de realidade. Diante de um compromisso social o neurótico reage com muita ansiedade, mais que a maioria das pessoas submetidas à mesma situação. Nessa circunstância a pessoa começa ficar muito ansiosa, em situação de tensão uma semana antes do evento. Num determinado ambiente (ônibus, elevador, avião, em meio à multidão, etc.) a pessoa neurótica começa a passar mal, achando que vai acontecer alguma coisa (desproporcional), ou passa mal só de saber que terá de enfrentar tal situação (sem causa aparente).
Assim sendo, neuroses são distúrbios leves com poucas distorções da realidade, porém tão desconfortável quanto qualquer outro transtorno mental, necessitando. portanto, de tratamento psicológico.
A neurose é sempre resultante de um conflito intrapsíquico, enquanto a psicose há uma disposição endógena ou constitucional.
Os sintomas mais comuns na neurose são: insatisfação geral, inflexibilidade de idéias, rigidez, problemas relacionados à área sexual, excesso de mentiras (mitomania); angustia, crises de choro imotivado, depressão, sintomas psicossomáticos, fobias, pânico, depressão, euforia, oscilação de humor, obsessões, compulsões, etc.
Já a psicose é um estado desequilibrado de funcionamento psíquico. O aspecto central da psicose é a perda do contato com a realidade, variando conforme sua intensidade. Quando a pessoa acaba recriando o que é real, inventando coisas que não existem no plano de entendimento social e que só a ele faz sentido, aí está a psicose no ser humano.
O psicótico vive em um mundo à parte, no qual ele interage com seres e objetos irreais, ao mesmo tempo em que se ausenta cada vez mais da realidade concreta.
As psicoses se definem pela perturbação do pensamento. Alguns sintomas desses distúrbios, por exemplo, nas esquizofrenias, se detecta alteração na percepção, desordem do pensamento, delírios (falsa realidade percebida, crença em conspiração), persecutoriedade (se sente perseguido, acredita que fontes externas controlam seus pensamentos), e alucinações (escutar vozes ou ter visões, onde estas não existem), afastamento da realidade, comportamentos estranhos e distúrbios da fala.
As psicoses geralmente necessitam de avaliação psiquiátrica e conduta medicamentosa - eventualmente internação.
Quando o paciente psicótico está fora da crise, tem condições de tomar conta de si mesmo, vivendo praticamente de forma normal, alimentando sonhos, expectativas, desejos, interagindo bem com os outros. Ao surtar, porém, ele pode se transportar para um universo só dele, fantasioso, no qual tudo é possível e as contradições convivem sem problema algum.
Hoje, existem eficientes alternativas de tratamentos, tanto em termos de abordagens psicológicas quanto psiquiátricas e medicamentosa para todos os transtornos, tanto neuróticos, quanto psicóticos, não havendo razão para preconceitos.
                                                     Profa Dra Edna Paciência Vietta
                                                             Psicóloga Clínica

domingo, setembro 02, 2012

Neurose

                                      

A palavra "neurótico", da maneira como costuma ser utilizada hoje, tem sentido impróprio e pode ser ofensiva ou pejorativa. Para muitas pessoas a palavra "neurose" pode ser utilizada como sinônimo de "loucura". Mas isso não é verdade. A neurose além de doença é uma maneira de a pessoa ser e de reagir diante da vida. Essa maneira de ser, significa que a pessoa reage através de reações vivenciais diferente, das que normalmente as pessoas reagem; seja pelo fato dessas reações serem desproporcionais, seja pelo fato de serem duradouras, ou ainda, pelo fato delas existirem mesmo sem causa aparente. As neuroses são fruto de tentativas ineficazes de se lidar com conflitos e traumas inconscientes. Nesse sentido, o que distinguiria a neurose da normalidade seriam a intensidade do comportamento e a incapacidade da pessoa resolver seus conflitos internos e externos de maneira satisfatória.

A neurose é uma doença causada por motivos inconscientes os quais geralmente garantem ganhos secundários, aparentemente vantajosos ao neurótico. Por exemplo, ser o centro das atenções familiares, obter o domínio do ambiente, evitar responsabilidades, camuflar inseguranças, medos, complexos, baixa auto-estima, etc.

As neuroses se manifestam por meio de sintomas inespecíficos e específicos. Os inespecíficos, ou acessórios, podem existir não só nas neuroses, mas também em outras doenças orgânicas ou psíquicas: depressão, hipocondria, irritabilidade, insônia, dores de cabeça, vertigens, paralisias, cegueira, convulsões etc. Apesar de acessórios, são muito freqüentes nas neuroses, e às vezes dominam o quadro clínico, de modo a mascarar ou encobrir os sintomas específicos.

Os sintomas específicos, ou essenciais, realmente típicos das neuroses, são angústia, fobias, obsessões, conversões (somatizações) e certas inibições, como a impotência sexual.

Em relação à ansiedade, a preocupação e o medo podem causar numerosos distúrbios em muitos indivíduos. Uma neurose deste tipo produz um estado de tensão crônico. Deste grupo fazem parte pessoas que são vítimas de ansiedade e medos de toda sorte. (Medo de elevadores, multidão, micróbios,  sexo, loucura, morte e muitos outros fatores).  Este sentimento de insegurança as torna sempre irrequietas. Nunca  descansam. Permanecem em estado constante de exaustão nervosa.

Os sintomas neuróticos de ansiedade geralmente se desenvolvem em pessoas portadoras de caráter ansioso, ou seja, pessoas que encaram a vida com apreensão, socialmente inseguras, pessimistas e negativistas. Situações vivenciais, perdas significativas, problemas conjugais, crises  financeiras e outros conflitos mais sérios, ou ainda, doenças físicas, podem precipitar nestas pessoas um quadro clínico de ansiedade, embora em alguns casos, os sintomas apareçam sem que nenhum fator significativo possa ser evidenciado.

Nossas vivências terão sempre caráter individual e particular em cada um de nós, de acordo com as particularidades de nossos traços afetivos. Os fatos podem ser os mesmos para várias pessoas, as vivências desses fatos, porém, serão sempre diferentes.

Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, propõe em um pequeno artigo datado de 1911 uma análise a respeito de como nos inserimos no mundo e de que maneira nos protegemos daquilo que pode se apresentar como ameaçador ao nosso psiquismo.

Como é possível compreender a relação que o ser humano estabelece com a realidade? Freud se fez estes questionamentos para tentar compreender a realidade e como nos relacionamos com ela, buscando esse conhecimento nos dois princípios que regem o funcionamento mental: o “princípio do prazer” e o “princípio da realidade”.

Freud chama de “princípio do prazer” aos processos primários do desenvolvimento humano, em que o sujeito busca a obtenção de prazer. Caso haja um desprazer, a atividade psíquica se recolhe. A este movimento de recolhimento Freud irá chamar de “recalque”, processo comum no neurótico.

Nem tudo que desejamos podemos concretizar, pois, a realidade (regras morais, cultura, tradição, costumes), regida pelo princípio de realidade, impede que o desejo seja satisfeito de maneira plena, daí a necessidade do recalque. Nesse sentido, o princípio do prazer é uma atividade psíquica, que abdica da imaginação, da fantasia, e concebe o real com todas suas vicissitudes e suas possíveis conseqüências desagradáveis. Daí Freud concluir ser a neurose o resultado de um conflito entre o Ego e o Id, ou seja, entre aquilo que o indivíduo é (ou foi) de fato, com aquilo que ele desejaria prazerosamente ser (ou ter sido).


           Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

                     Psicóloga Clínica