domingo, dezembro 30, 2012

Kummerspeck: gordo de tristeza


Kummerspeck: gordo de tristeza

Obesidade não é um problema novo, temos relatos sobre essa enfermidade desde a antiguidade, porém na concepção de doença e, na proporção de epidemia conforme constatado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), agora considerada um mal contemporâneo. Como epidemia do século XXI, atinge tanto países de primeiro mundo, como países em desenvolvimento. Estudos mostram que a obesidade já é problema mais freqüente e mais grave que a desnutrição, sendo considerada como um dos principais sintomas de neurose no mundo ocidental (Woodman, 1980). É também, um importante fator de risco para patologias graves, como a diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, distúrbios reprodutivos em mulheres, alguns tipos de câncer e problemas respiratórios. A obesidade pode ser causa de sofrimento, depressão e comportamentos de esquiva social, prejudicando em muitos aspectos a qualidade de vida das pessoas.
A obesidade é de etiologia múltipla, genética, emocional e comportamental com influências culturais, sociais, econômicos e de fatores demográficos.
No que diz respeito ao aspecto psicológico e ao desenvolvimento humano podemos considerar a importância da alimentação na vida da pessoa, já presente nas primeiras relações entre mãe e bebê quando, inegavelmente, a alimentação está ligada à condição de sobrevivência humana.
Segundo Freud, quando alimentado, ainda no seio materno, o bebê busca alivio para sua sensação desprazeirosa reconhecida como fome, momento em que deve receber o aconchego materno, o toque, reconhecer o som dos batimentos cardíacos da mãe e principalmente seu olhar materno, fator indispensável para o início da constituição psíquica de ser. Quando no ventre materno, o ser humano está na plenitude, já que, totalmente protegido, ele é suprido de todas suas necessidades, daí se dizer que quando se nasce, se cai do paraíso e a partir daí o ser vai viver a vida toda em busca da plenitude perdida. Há uma espécie de vazio, de falta que nunca poderá ser preenchida a não ser que se pudesse voltar ao útero materno. No entanto, o homem busca incessantemente, por diversas formas, reaver, ainda que de forma ilusória, essa plenitude (o prazer de ter todas as suas necessidades e desejos completamente satisfeitos). Ledo engano. Há quem busque a plenitude nas drogas, no sexo, o obeso busca na comida, etc.
A fome do obeso é pulsional, é infantil, é voraz. Utiliza-se da comida como se o ato de alimentar-se o reconduzisse a um estado de nirvana.
O processo alimentar é o eixo da vida emocional no início da primeira infância, é o centro do universo da criança. Quanto mais amadurecido o ser, maior a condição de distinção entre necessidade e desejo. Esse desejo é uma espécie de constatação amorosa em nós da nossa incompletude, da certeza de não sermos plenos, completos, de que nos faltam coisas. Esta fantasia que funciona em nós como uma espécie de representação do que devemos alcançar para que possamos finalmente chegar a esta suposta plenitude
Na vida adulta a alimentação continua um elemento obrigatório no cotidiano e em excesso legitimado, sobretudo, em rituais festivos: Natal, casamentos, comemorações, etc. Aqui já não há apenas a presença da necessidade do alimento em si, mas o desejo ou satisfação em se comer algo especial como, o peru, aquela macarronada, aquele churrasco, aquele pudim de leite condensado. O comer toma outras funções, não só de aplacar ou saciar a fome, mas satisfazer carências, necessidades internas relacionadas a frustrações, insatisfações, estresse emocional, etc. É justamente essa incapacidade que o obeso tem de simbolizar sua relação com o alimento que o leva a exagerar no consumo. 
Após as duas grandes Guerras Mundiais se observou que mulheres que passaram um período longo de carências, inseguranças e incerteza ou vivenciaram a perda de entes queridos, apresentavam a tendência em aumentar de peso, não explicada somente pelas questões calóricas. Nesta época, tornou-se comum o uso do termo Kummerspeck, (palavra de origem Germânica) que quer dizer “gordo de tristeza”.
Na verdade o luto, no sentido de qualquer perda material e/ou afetiva (morte, perda de emprego, perda financeira, divorcio, perda de estabilidade, de status, etc.), muitas vezes, torna-se disparadores do descontrole da fome. Os obesos dizem ter a impressão de estarem compensando alguma necessidade. Quando nos aprofundamos nas causas das compulsões percebemos que estão muito mais ligados a sentimentos de culpa, reprovação, e auto-recriminação.
A compulsão alimentar pode, ainda, atuar como mecanismo de defesa, ou como se essa fosse a única forma de resolução de problemas.
Daí a importância de se entender a relação que o obeso estabelece com a comida, seus recursos para lidar com limites internos e externos, sua capacidade de tolerar frustrações, entre outros.

                 Profa Dra Edna Paciência Vietta
                               Psicóloga Clínica

quinta-feira, dezembro 20, 2012

Psicoterapia Breve: recurso eficiente e econômico


                       Psicoterapia Breve: recurso eficiente e econômico.

Psicoterapia é um processo de tratamento para problemas de ordem emocional ou mental que, utiliza-se de abordagens psicológicas, propiciando condições favoráveis para o autoconhecimento, facilitando a compreensão de possíveis influências do meio na determinação de problemas e conflitos emocionais. É um procedimento de base científica que visa ajudar a pessoa a captar recursos internos e externos para solucionar problemas ou enfrentá-los de forma adequada e sadia. Nesse processo que se estabelece na relação entre paciente e terapeuta o paciente tem oportunidade de desenvolver uma real percepção de si mesmo, de seus comportamentos, atitudes, pensamentos e sentimentos. É a oportunidade que a pessoa tem de identificar e reconhecer seus defeitos, qualidades e potencialidades e aprender a utilizá-los a seu favor. Nem sempre as pessoas conseguem fazer essa auto-observação e sofrem por desconhecer as razões pelas quais agem desta ou daquela maneira.
A psicoterapia busca fornecer condições para que a pessoa, dentro de seu próprio referencial (e não do terapeuta) apreenda suas reais características de personalidade, potencialidades, dons, talentos, capacidades, preferências, qualidades e limitações e as direcione de forma construtiva.
A psicoterapia tem hoje, seu uso difundido e conta com várias linhas de abordagens diferentes. As mais difundidas são as de base psicanalítica, que surgiram com trabalhos de Sigmund Freud na virada do século XIX para século XX, com vários seguidores e dissidentes como Adler, Melaine Klein, Bion, Lacan e outras, também difundidas no Brasil como o Psicodrama, Psicologia Analítica de Jung, Análise Existencial, com vários representantes, entre eles psiquiatras e psicólogos.
 Algumas psicoterapias já foram testadas dentro de um modelo empírico, entre elas, a Psicoterapia Breve, a Terapia Interpessoal e a Terapia Cognitivo-comportamental, estas última muito difundidas na Europa. 
A vida moderna e o poder aquisitivo das pessoas demandam por serviços cada vez mais eficientes e em tempo reduzido para resolução de problemas de qualquer natureza. Limitações econômicas e pouca disponibilidade de tempo são fatores que interferem de forma decisiva na hora de buscar ajuda psicoterápica. A perda de valores vitais, a constante cobrança e exigências em termos de realização humana, o baixo poder aquisitivo e alto custo de tratamentos especializados, têm restringido certas práticas médicas e psicológicas a poucos privilegiados.
Adaptações técnicas às atuais condições do mundo Pós- Moderno carecem cada vez mais de especialistas nesta área, com conhecimentos profundos e consciência social.
O grande desafio do século XXI é a procura de soluções de problemas e conflitos pessoais e sociais de forma adequada, eficiente, rápida e econômica.
A Psicoterapia Breve é um desses recursos, pois visa atingir os problemas emocionais mais prementes que possam ser solucionados em curto prazo. Sua eficácia depende, sobretudo, da motivação do cliente e sua disposição em mudar. Esta é a chave para se obter resultados positivos satisfatórios nesta abordagem.
A Psicoterapia Breve trata-se de um modelo de terapia, com objetivos específicos. Apesar do termo “breve” remeter à idéia de tratamento de curta duração, esse tipo de terapia possui outras características, entre elas, a do estabelecimento de um foco, ou seja, suas ações são voltadas para as queixas principais (motivos da procura), estando centrada na superação de sintomas e vivências atuais e para a solução de conflitos que se configuram como prioridades para o cliente. Outra característica é que por conta da emergência/urgência e/ou importância do problema focal há maior atividade do terapeuta (intervenção mais ativa) exigindo do terapeuta a capacidade de associar o rigor da técnica ao referencial teórico. Trata-se de técnica, com características próprias e não simplesmente encurtamento do processo psicoterápico. Envolve o uso de técnicas focais e a vivência de “experiências emocionais corretivas”, exigindo treino e experiência específica por parte do terapeuta.
Por “experiência emocional corretiva” se entende a possibilidade do cliente reviver situações traumáticas do passado, sentimentos reprimidos, agora experimentados na relação com o terapeuta, num contexto de segurança, aceitação e ausência de censura. A partir desta interação o cliente pode chegar à reformulação, reparação ou superação de seus conflitos.
Cabe ao terapeuta o acompanhamento e avaliação da evolução do processo e, em casos de necessidade de aprofundamento, seja por insuficiência de domínio das tensões ou por opção do cliente em dar continuidade ao processo de autoconhecimento, a reformulação das bases de atendimento e o preparo do cliente para etapas consecutivas.


                        Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                                            Psicóloga


terça-feira, dezembro 18, 2012

SÓ VOCÊ É CAPAZ DE LIMITAR SEU CRESCIMENTO





    A observação sistemática do comportamento dos indivíduos tem mostrado que conhecemos muito pouco a respeito do nosso próprio comportamento. Pelo fato de termos acesso privativo aos próprios pensamentos e sentimentos, acreditamos possuir conhecimentos profundos dos porquês nos comportamos de determinadas maneiras. Contudo, esse tipo de conclusão não tem recebido suporte científico. Freud foi um dos primeiros pensadores a apontar o quanto da motivação humana permanece obscura à própria pessoa e sugeriu que tornar consciente essas motivações seria um passo importante para o estabelecimento de uma vida saudável.

    O autoconhecimento é adquirido, aprimorado e influenciado de acordo com a observação, percepção e interpretação que o indivíduo faz dos eventos de sua de vida, de sua cosmovisão (a visão que ele tem do conexto em que vive, do mundo e das pessoas). O problema é que nem sempre as pessoas conseguem fazer essa auto-observação e isso pode gerar sofrimento por desconhecimento das razões de seu agir, pensar e sentir, e conseqüente sensação de vazio, raiva e frustração.

    A psicoterapia é um processo de autoconhecimento que promove um maior desenvolvimento da percepção que o indivíduo tem dele mesmo, de seus comportamentos, pensamentos e sentimentos. O desejo de conhecer mais sobre nós mesmos geralmente nos remete a experiências da infância, vividas com nossos familiares mais próximos. Muitas lembranças são prazerosas, algumas podem vir acompanhadas de dor e angústia. Portanto, este é um processo temido por muitos, e várias são as manobras que utilizamos para evitar contato com nosso mundo interior. No entanto, reflexão e autoconhecimento são armas poderosas para resolver conflitos emocionais.

    A maior vantagem do autoconhecimento é que ele permite que o indivíduo encontre as reais causas das suas dificuldades possibilitando-lhe tomar atitudes para transformá-las. Por ser um processo temido, várias são as manobras conscientes e inconscientes, utilizadas pelo ser humano para evitar o contato com seu mundo interior. Os caminhos de alienação de si próprio são os mais diversos. Alguns evitam encarar sua realidade trabalhando o tempo todo, outros adoecem, outros comem ou gastam compulsivamente. Tudo isso para não ter tempo de olhar para si mesmo. Pessoas que não refletem sobre sua própria vida, distanciam-se cada vez mais de seus reais sentimentos, agem automática e impulsivamente, caminhando sem saber para onde. Muitos preferem levar a vida sem muitos questionamentos, pois analisar as próprias atitudes e comportamentos demanda coragem, sobretudo, quando se constata a necessidade de mudança, é como mexer num vespeiro. Dessa forma, evitam entrar em contato com seus sentimentos mais profundos, até como forma de defesa, temendo machucar-se.O perigo é a pessoa colocar toda culpa de seus insucessos, frustrações e dificuldades fora delas, nos outros, nas situações e contingências da vida e se acomodarem, parar de lutar, de crescer, de progredir.Passam a esperar e exiger que os outros mudem.
    Só existe uma pessoa capaz de limitar seu crescimento: VOCÊ MESMA! Você é a única pessoa que pode fazer a revolução de sua vida. Sua vida não muda quando seu chefe muda, sua empresa muda, seus pais mudam, sua namorada muda. Sua vida muda quando você muda. Quando você toma as rédias de seu próprio destino. O que muda é a maneira de você encarar a vida.
   O autoconhecimento nada mais é do que o antigo axioma ensinado por Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo". Significa ter consciência de si mesmo, percepção dos próprios sentimentos, conhecer o sentido da própria vida, fazer uma avaliação realista das próprias capacidades e limitações de modo a desenvolver o auto-encontro gerador da auto-estima e autoconfiança. Inteligência emocional é justamente esta capacidade de percepção dos próprios sentimentos a partir da qual, aprendemos a lidar com eles, dominando-os quando negativos, desenvolvendo-los quando positivos, de modo a se conquistar o equilíbrio emocional. Esse equilíbrio nos permite a motivação para uma vida mais harmonizada.
    Pensadores, filósofos e pesquisadores têm debatido sobre a importância de o indivíduo conhecer a respeito do seu próprio comportamento, ou seja, como alcançar o autoconhecimento e o quanto este é relevante para a garantia de sua saúde mental. A Psicologia é uma área do conhecimento que busca encontrar a resposta para essas questões por meio de método científico. Por este motivo, quando se deseja alcançar um grau mais profundo de autoconhecimento, recomenda-se a psicoterapia. Este processo é um recurso relevante para a produção das mudanças desejáveis, um caminho para compreensão dos motivos conscientes e inconscientes que nos leva a agir desta ou daquela maneira.
                                 Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                                         Psicóloga Clínica

O SUJEITO PÓS-MODERNO: NO OLHO DO FURACÃO

   
O Sujeito pós-moderno: no olho do furacão 

Não é assim um furacão? uma força da natureza que vai se formando num crescente de velocidade (velocidade superior a 105 km/h ) e cria em seu centro um vácuo aparentemente silencioso (um olho que pode variar de em tamanho, de 320 km a 200 milhas) de um lado a outro, geralmente situado no centro geométrico da tempestade), cercado por um turbilhão de agitação e barulho? Embora o olho seja, de longe, a porção mais calma da tempestade, sem vento no centro e céu normalmente limpo, é possivelmente a região mais perigosa sobre o oceano. Assim é também o homem pós-moderno que sem se aperceber vai sendo tragado naturalmente para o centro de um turbilhão, na agitação do mundo comandado por forças arrebatadoras - as influências e dominações importas por um mundo em transformação nunca antes vista na história da humanidade. Edna Paciência Vietta.



As transformações da sociedade atual estão mudando nossas identidades pessoais, balançando a estrutura da idéia que fazíamos do sujeito integrado. Há uma perda de sentido, uma descentração do sujeito. Há quem diga que o homem pós- moderno é um ser atormentado, adoecido.
Hall assinala que instala-se na pós-modernidade uma crise de identidade, uma vez que o que antes estava centrado e estável, não está mais. Para este autor o sujeito pós-moderno: não possui uma identidade essencial ou permanente (HALL, 2005).
No mundo dito pós-moderno, as identidades podem ser adotadas e descartadas como se troca de roupa. Portanto, do nosso ponto de vista, um dos problemas atuais do homem pós-moderno é o da formação e/ou adaptação da identidade.
Segundo Stuart Hall a identidade é um conceito bastante discutido pelas teorias sociais, as quais, procuram demonstrar as velhas identidades – responsáveis pela estabilidade do mundo social – estão entrando em decadência e sendo substituídas por novas identidades, caracterizadas, entre outras coisas, pela fragmentação do indivíduo moderno. Para este autor a identidade é, portanto, definida historicamente e, não, biologicamente.
Assim, o sujeito pós-moderno só pode ser entendido se colocado na perspectiva histórica, ainda assim é possível que sejamos surpreendidos com um “sujeito” fragmentado, amedrontado, triste, ignorado enquanto ser, perdido na busca de sua identidade.
A chamada "crise de identidade" é vista hoje, como parte de um processo mais amplo de mudança, abalando os padrões de referência que garantiam, até então, aos sujeitos, certa estabilidade e segurança para sua sobrevivência no mundo.
No âmbito psicológico, o sujeito pós-moderno vivenciaria o quadro de transformação social e de incerteza sobre os paradigmas antes estáveis e vigentes, com movimentos de afastamento ou de progressivo fortalecimento da individualidade, face à incerteza do mundo em mudança.
Por razões obscuras, o ser humano não se reconhece e se nega buscar o autoconhecimento estando, por isso, vulnerável às diversas influências e dominações.
Por isso, a questão da identidade está sendo extensamente discutida na teoria social e também na psicologia.
O argumento é o seguinte: as velhas identidades, que por tanto tempo sustentaram o mundo social, estão em declino, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado.
A noção de identidade, no âmbito psicológico, é um processo contínuo de elaboração de “um conceito estável de si mesmo como indivíduo único e a adoção de uma ideologia ou sistema de valores que proveja um senso de direção”, um processo no qual “formamos nossa auto-imagem, a idéias sobre nós mesmos e o que os outros pensam de nós” (SCHULTZ, 2002).
A noção de identidade no âmbito psicológico implica, portanto, em construção de um senso de direção, de uma estrutura psicológica e emocional que possa prover certa noção de equilíbrio.
Acontece, que o sujeito pós-moderno pode se perder numa desordem ou em uma nova ordem, na qual os interesses individuais tendem a suplantar os interesses voltados ao bem-estar coletivo. Cada um estaria voltado para a busca de sensações prazerosas a despeito da organização coletiva.
A humanidade é bombardeada por informações, influenciada pelos meios de comunicação e pela utilização de novas tecnologias. A mídia cria demandas de consumo, que muitas vezes nada tem a ver com a necessidade do sujeito, oferecendo ao indivíduo várias possibilidades de identificações e exercendo papel de formadora do EU. Tudo isso coloca o sujeito na posição de mero espectador.
Nunca, na história da humanidade, o local e o global estiveram tão intimamente ligados à formação de sua identidade. Cabe ao sujeito pós-moderno construir uma identidade estável e que se sustente na trama histórica que se desenrola no tempo e no espaço.
Para isso, o homem pós-moderno além do autoconhecimento precisa aprender a conviver com as mudanças de forma realística. É preciso buscar equilíbrio. É difícil imaginarmos hoje o mundo desinformatizado, desconectado e desglobalizado, estamos no meio de transformações profundas, sem saber para onde caminhamos, à deriva - no olho do furacão.
                                               Profa. Dra Edna Paciência Vietta
                                                           Psicóloga Clínica



DISTIMIA: MAU-HUMOR PODE SER DOENÇA



                       
  Descrita pela primeira vez nos anos 80, a DISTIMIA foi reconhecida pela medicina como uma forma crônica de depressão leve. O portador de Distimia passa, às vezes, a vida toda sendo considerado pelos outros como sendo “baixo astral”, melancólico, mal-humorado. Distímicos são pessoas que não têm muita tolerância para com as imperfeições dos outros. Possuem baixa auto-estima e são extremamente autocríticas, têm habilidades sociais pouco desenvolvidas, podendo se prejudicar pelas dificuldades de relacionamentos com colegas de escola, de trabalho, familiares, namorados, companheiros ou cônjuge. Dado seus comportamentos negativistas, rígidos, ranzinzas, acabam recebendo tratamento pejorativo, refletindo em estímulos negativos e reforçando, ainda mais, sua visão negativa do mundo.
    Várias são as causas deste transtorno, entre elas, podemos citar: relacionamentos familiares complicados na infância; pais abusivos, agressivos, ausentes, distímicos. Em famílias que tenham mais membros que sofram de Depressão, Pânico, e outros distúrbios que interferem no metabolismo de certas substâncias cerebrais, abuso de álcool, tranqüilizante e/ou drogas ilícitas, reações de estresse extremo, etc.
    O distímico só enxerga o lado negativo do mundo, são sistemáticos, é o tipo de pessoa que não manifesta alegria por muito tempo, que se queixa da sogra, do chefe, do cachorro, do vizinho. Aborrecem-se quando chove, faz sol, calor, frio, da rotina, enfim é um eterno insatisfeito. Tudo é motivo para reclamação, nervosismo e irritação. Essas pessoas são hipersensíveis e se ofendem com muita facilidade, parecem sempre tensas, contidas, na defensiva, de difícil relacionamento. Reconhecem sua inconveniência quanto à rejeição social, mas não conseguem se controlar. Suas reações são imprevisíveis. Nunca se sabe como agir com elas, daí serem muitas vezes rejeitadas evitadas. Não se sentem doentes, mas sim, prejudicadas, rejeitadas, incompreendidas, injustiçadas. A desculpa recai sempre no ambiente, nas pessoas a sua volta, nas circunstâncias, etc. É comum, a queixa vir de um cônjuge, namorado, ou familiar, geralmente por afetá-lo, ou ser parte de seu problema (conviver com uma pessoa distímica).
    O distímico é bastante resistente a tratamento, só buscando ajuda quando sua depressão passa a incomodá-lo, o que geralmente acontece quando esta, já se tornou grave. São pessoas que superestimam os aspectos negativos dos acontecimentos. Qualquer tarefa será sempre considerada “cavalo de batalha”. Tudo é feito por obrigação, nada por prazer. O sentimento de infelicidade o domina o tempo todo. Vivem irritadas, às vezes, fazem grosserias, magoando ou ofendendo pessoas, brigando por qualquer motivo.
    A pessoa distímica passa a maior parte do dia de mau-humor (ou humor deprimido), além disso, pode sentir cansaço, baixa energia, desânimo, preocupação excessiva, insônia ou sonolência, falta ou excesso de apetite, sensação de inadequação, queixas físicas (náusea, vômito, cefaléia, enxaqueca), dificuldade em tomar decisões, falta de concentração, etc. Como os sintomas são relativamente atípicos, a DISTIMIA pode ser confundida com um traço de personalidade, ou natureza da pessoa.
    Embora, trata-se de depressão leve, isso não significa ser menos grave, já que estas pessoas apresentam sofrimento razoável, sentem-se rejeitadas, deslocadas, além de correrem 30% mais riscos de desenvolverem quadros depressivos graves, como Transtorno de Pânico, Dependência de álcool e drogas ilícitas, idéias suicidas, daí ser sempre prudente consultar um especialista. Este transtorno atinge pelo menos 180 milhões de pessoas no mundo e 5% da população geral ao longo da vida, acometendo duas a três vezes mais mulheres do que homens.
    Normalmente, os sintomas aparecem no início da vida adulta perdurando por vários anos, às vezes, a vida toda. Quando não tratada, a depressão interfere de modo significativo na qualidade de vida das pessoas.
    A diferença entre o distímico e outros mal-humorados é que os últimos reclamam de um problema, mas mudam de humor quando obtém a solução, enquanto o distímico, segue procurando justificativas para continuar mal-humorado. É bom esclarecer que nem todo mal-humorado pode ser considerado distímico. Só podemos afirmar que mau-humor é doença quando estiver acompanhado dos sintomas mencionados e for percebido de forma constante por longo tempo. É importante saber que o distímico não consegue se curar sozinho. A boa notícia é que a doença tem cura quando adequadamente tratada.
                               Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                                           Psicóloga Clínica

O HOMEM MODERNO E O RITMO DE VIDA


"o homem irritável provoca a dissensão, mas quem é paciente acalma a discussão (Provérbios 15.18)
O mundo moderno, obcecado pela tecnologia, pela produtividade e pelo consumismo e bens materiais, privilegia os valores da matéria e do corpo em detrimento dos valores da alma. Por isso é um mundo onde existe pouca ou nenhuma paz. Daí tanta inquietação, tanta pressa, tanto estresse, tantos conflitos.

Há quem afirma a era moderna como a idade da Ansiedade e conflitos, associando a estes acontecimentos psíquicos a agitada dinâmica existencial da modernidade; sociedade industrial, competitividade, consumismo desenfreado e assim por diante. Sentiríamos muito menos sofrimento e inquietações se conseguíssemos o equilíbrio para racionalizar o grau de importância que esses bens de consumo representam em nossas vidas... Vejamos: Você usa tudo que você possui? Dê uma olhada em sua casa, no seu guarda-roupa... você realmente utiliza tudo que compra? Necessita do que compra ou compra apenas para satisfação do seu Ego? Experimente quando se encontrar numa situação de "compra eminente", se questionar: Preciso realmente disto ou posso viver sem? Talvez você descubra que boa parte do que adquire é desnecessário.
E na luta do "ter" em detrimento do "ser" acabamos por não valorizar o que temos de melhor, a vida, a saúde, a família, nosso caráter, as amizades, nossas crenças, nossos talentos e potencialidades, etc.
O mundo moderno parece caracterizar-se pelo avanço veloz do conhecimento e da tecnologia, o qual pode acelerar continuamente o nosso ritmo de vida. A escassez de paz, que a linguagem moderna traduz muitas vezes por estresse, é um perigo que compromete a saúde física, psicológica e mental, e acarreta uma boa parte das doenças contemporâneas.
A vida mecanizada de hoje, particularmente nos grandes centros urbanos, tende a levar todas as coisas num ritmo frenético.
Vivemos num momento de rápidas transformações fortes mudanças, de caráter ambiental, social, econômico, científico, cultural e tecnológico, entre outras. Estas mudanças podem nos provocar transformações internas (ex. orgânicas, emocionais, racionais). Neste contexto, o autoconhecimento e a intuição podem ser de grande valia, auxiliando-nos na adaptação a este mundo mutante e no direcionamento de nossos potenciais, para que possamos realizá-los da forma mais completa. Buscando um contato maior conosco mesmo, é possível que consigamos conhecer e distinguir melhor nossas emoções (que afetam muito nossas decisões e resoluções de problemas) de nossas intuições, o que pode nos auxiliar a fazer melhores escolhas em nossa vida.
Precisamos aprender a dominar e acalmar nossos pensamentos. É preciso harmonizar nossa mente e conquistar uma vida calma e tranqüila. Uma mente sempre agitada irá desequilibrar todas as nossas ações, tornando-nos ansiosos, inquietos, irritadiços, expostos a todo tipo de conflito. Como sabemos, diariamente, problemas variados acontecem no nosso cotidiano profissional e muitos desses problemas acabam tirando a nossa paz, deixando-nos, muitas vezes, irritados e sem o menor poder de reação, bloqueando a nossa força interior. E quando isso acontece o nosso equilíbrio emocional acaba sendo prejudicado.
 “Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade”(Provérbios 16.32).
Profa.Dra. Edna Paciência Vietta 

UM NOVO PARADIGMA? PARA ONDE CAMINHAMOS?



UM NOVO PARADIGMA? PARA ONDE CAMINHAMOS?




    Após as duas Guerras Mundiais, a humanidade passou por um profundo processo de mudança de paradigma e transformações na cultura.

    As promessas de um mundo melhor calcado na razão foram frustradas pela industrialização descontrolada, pelas sucessivas agressões à natureza e a consciência dos perigos do seu aproveitamento desmedido, pelo consumismo desenfreado, dentre outros. O homem passou a abandonar a razão em prol do afeto. Ao mesmo tempo, o pensamento perdeu seu fundamento de certeza. A verdade passou a ser tida como alcançável somente em um contexto parcial e localizado.
    Na realidade, a razão moderna não conseguiu eliminar a experiência religiosa da vida das pessoas. Ao contrário do que poderia se esperar, a pós-modernidade permitiu uma inusitada expansão e diversificação de expressões religiosas e formas de religiosidade.
    A pós-modernidade representa uma frustração com o discurso iluminista e suas grandes idéias, que, apesar dos grandes avanços científicos que proporcionaram, mostraram-se incapazes de pôr fim às mazelas da sociedade e de produzir um estado de permanente bem-estar, edificado pela razão humana. “O pós-modernismo está associado à decadência das grandes idéias, valores e instituições ocidentais – Deus, Ser, Razão, Sentido, Verdade, Totalidade, Ciência, Sujeito, Consciência, Produção, Estado, Revolução, Família”.
    Um estado de fluidez se apossou das certezas que nos foram legadas pelo período anterior da história, e toda a sua segurança cedeu lugar a um estado de coisas no qual não mais existem verdades definitivas. Já não ousamos imaginar a realidade construída sobre um único fundamento ou sobre verdades imutáveis. Vivemos no reino do fragmento.
    O mundo mudou. Para muitos estudiosos a era moderna ou modernidade terminou ou deu lugar a outro paradigma a pós-modernidade. Em quase todos os círculos acadêmicos e em outras esferas, os novos fenômenos sociais, as rápidas transformações e a grande expectativa do século XXI à nossa volta, temos uma certeza, a de que uma nova Era teve início - A Era pós-moderna.
   odemos perceber que aconteceram mudanças significativas em nosso mundo. Vivemos em um mundo pós-moderno e com ele o desafio de entender estas mudanças e suas influências no modo: como as pessoas pensam, sentem e agem. Essas mudanças foram tão abrangentes e com evidentes reflexos nos valores que permeiam a ética e a moral.
   No campo da ética, vence o individualismo. Valorizam-se mais o que se pode ganhar do que o que se pode fazer para melhorar a vida de todos. A dimensão espiritual também sofre o impacto desse rearranjo contemporâneo. Igrejas transformam-se em verdadeiras máquinas do sistema capitalista. Surgem as mais diversas expressões religiosas, que oferecem conforto, consolo e promessas de melhores dias a seus devotos, em um festival de "filosofias" para todos os gostos, combinadas a valores da modernidade.
    Tal contexto parece indicar uma total reorganização da humanidade, provavelmente tão ou mais importante que a sofrida na transição da Idade Média para a Idade Moderna.
    Vivemos numa época complexa e com características inéditas na história da humanidade. Na tentativa de apreensão e compreensão dessa realidade, teóricos de diversas áreas do conhecimento humano, como filósofos, sociólogos, antropólogos, teólogos, psicólogos, historiadores e outros têm se dedicado ao estudo dessas transformações.
   Os pós-modernistas são convictos de que vivemos uma fase onde surgirão novos paradigmas, e, portanto, o surgimento de uma nova cosmovisão.
    Cosmovisão, basicamente, é a forma como enxergamos o mundo. O nosso sistema pessoal de crenças, valores e sentimentos. São os critérios aos quais nos baseamos para compreender tudo que está ao nosso redor. A nossa concepção de realidade. Estamos todos sendo moldados por essa estrutura para nos adaptarmos a esse novo paradigma configurado pela sociedade pós-moderna. Pasmos, com tantas mudanças estamos alheios, olhando a paisagem com um binóculo, enquanto, dominados achamos que estamos construindo uma nova cosmovisão. Não sejamos ingênuos.
                                 Profa. Dra Edna Paciência Vietta
                                               Psicóloga Clínica

domingo, dezembro 16, 2012

TDAH e Co-morbidades




Esquecimentos, problemas com memória, distração...  Até pouco tempo atrás, quando alguém "aparentemente normal" não conseguia se concentrar, lembrar do que devia ser feito, perder prazos ou concluir tarefas, pensava-se tratar de desinteresse, falta de esforço, ociosidade, vagabundagem, desleixo, indolência, preguiça, até mesmo malandragem. Hoje, sabe-se que muitas destas pessoas podem sofrer do TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Estima-se que cerca de quatro milhões de adultos no Brasil são vítimas do TDAH. Esse distúrbio, que associa a desatenção e a impulsividade com a hiperatividade, é capaz de afetar a qualidade de vida, trazer problemas de relacionamento na vida pessoal, conjugal e profissional tanto em adultos quanto em crianças. Se não tratada adequadamente na infância pode trazer sérios problemas para a vida adulta entre elas a co-morbidade (outras disfunções que acompanham o TDAH).
Co-morbidade é um termo utilizado para descrever a ocorrência simultânea de dois ou mais problemas de saúde em um mesmo indivíduo. Esse é um fenômeno freqüente na prática clínica, e sua identificação é um fator importante que afeta tanto o prognóstico dos pacientes como a conduta terapêutica.
São as co-morbidades que dão o colorido especial a cada portador de TDAH, muitas vezes dificultando ou mascarando seu diagnóstico. Na vida adulta de um TDAH, as co-morbidades são muito freqüentes, atingindo mais de 50 % dos portadores, muitas vezes com mais de uma co-morbidade. O TDAH pode vir acompanhado de: Transtorno de Ansiedade, Transtorno de Aprendizado, Transtorno Depressivo, Transtorno de Humor Bipolar, Transtorno Opositivo - Desafiador, Transtorno de Conduta entre outros.
O TDAH se caracteriza pela tríade: Hiperatividade, Impulsividade e Desatenção. Os três sub-tipos podem se combinar de várias maneiras com qualquer uma das co-morbidades.
As pessoas com TDAH apresentam, ainda, uma maior tendência em abusar de drogas. O índice pode chegar a 50%. No caso do tratamento de dependentes químicos, é fundamental investigar se há diagnóstico de TDAH. A presença de TDAH dobra o risco para o desenvolvimento de abuso/dependência de substâncias ao longo da vida, e ambos os transtornos influenciam-se mutuamente, o que traz implicações para o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento de ambos os transtorno. A pessoa pode utilizar-se de bebidas alcoólicas, maconha e tranqüilizantes como forma de anestesiar seus pensamentos negativos, sua depressão, sua agitação e sua ansiedade crônica.
Estudos epidemiológicos realizados em crianças portadoras de TDAH documentam incidências elevadas de distúrbios psiquiátricos co-mórbidos, incluindo Transtornos Disruptivos de Comportamento (Transtorno Opositivo Desafiador, Transtorno de Conduta, Transtorno de Personalidade Anti-social); Transtorno de Aprendizagem Escolar, Distúrbio da linguagem: Transtorno de Ansiedade: Transtorno do Humor e Transtorno de Tics.
Além desses, outros transtornos podem também serem observados com certa freqüência como, por exemplo, o transtorno alimentar por conta da compulsão que acomete a maioria dos portadores de TDAH.
Outros transtornos bastante comuns nesses pacientes são as fobias pelo medo de cometerem gafes, de serem criticados, ridicularizados, medo dos famosos "brancos", esquecimentos, ou por outras situações que os exponham de maneira negativa, por exemplo, na fobia social (medo de estabelecer relações sociais, falar em público), ou outras fobias como medo de avião, elevador, sangue, tempestade. Sendo comum a baixa auto-estima, a depressão e até mesmo o Pânico.
Na Adolescência e na idade Adulta os sintomas do TDAH se modificam, a hiperatividade não se apresenta mais tão visível passando a ser mais uma sensação de inquietude. No entanto, a desatenção persiste quase inalterada, embora facilmente disfarçada. Dirigir veículos, por exemplo, pode se tornar uma atividade de risco para os portadores de TDAH, que não toleram esperar, por serem muito acelerados e impulsivos apresentam dificuldades em respeitar regras e sinais de trânsito, tornando-se, por vezes, imprudentes e, portanto, mais vulneráveis á acidentes.
Por tudo isso, se faz importante o tratamento precoce. No caso do TDAH adulto é aconselhável o diagnóstico correto e o tratamento adequado tanto em relação ao TDAH, quando às co-morbidades.

              Prof. Dra. Edna Paciência Vietta
                             Psicóloga Clínica

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Fixação ou Realidade?



O que você pretende comprar?  Órgãos humanos? (a escolher), caráter? (em falta), a virgindade de alguém? (sem beijo na boca), um sonho? (produto em extinção), amizade? (mencione o interesse), um amor? (artigo de luxo). A loja virtual “Tem de tudo” não falta nada, é só ter dinheiro, coragem, ingenuidade ou muita cara de pau. Absurdo? Não! isso tudo já pode ser adquirido, pasmem os senhores, pela internet.   Pode parecer filme de ficção, mas não é. É possível sermos interpretadas como retrógradas ou ultrapassadas. Alguém pode questionar, mas não estamos no século XXI? É preciso evoluir. Como enfrentar o mundo pós-moderno sem adotarmos posturas inovadoras? Há quem chame isso de inovação? Arriscamo-nos a morrer em pé, lutando para preservar nossas tradições. Tudo tem limite. Isso tudo, veio sim, no bojo da tecnologia, mas acreditem... Não é só culpa do desenvolvimento da tecnologia, nem tão pouco apanágio da evolução.
Por que estamos tão vulneráveis aos efeitos colaterais das inovações tecnológicas? Porque tudo isso afeta tanto a essência do ser humano? Não sabemos o que fazer com tudo isso? Há necessidade de maiores esclarecimentos? Informação adequada? Educação específica para sua melhor utilização? De posturas éticas de lideres como exemplos a serem seguidos? Já dissemos em artigo anterior: para esse mal não há remédio, não há vacina, só prevenção, educação e conscientização. Mas, com os governantes que estão aí? Eles mesmos expostos e vulneráveis a praga da corrupção? Pessoas até então consideradas de boa índole, honestas, nacionalistas, hoje na “cadeia” por crimes de corrupção política e formação de quadrilha os quais, outrora, se diziam dispostas a arriscarem a própria vida para salvar o país contra o golpe militar de 64? Deu a louca no mundo? Quando nos disseram que o mundo iria acabar em 2012, achamos graça, mas estamos quase “acreditando” nesta lenda urbana. Se o que estão desabando são a dignidade e a moral do ser humano, não podemos duvidar do caos que assinala o mencionado fim “simbólico” do mundo.
Onde vamos parar? Para onde estamos caminhando? E o que ainda está por vir? A maioria de nós sempre apreciou as tendências à modernidade, à evolução tecnológica, como fenômeno importante e bem vindo em todos os setores da vida moderna pelo conforto, possibilidade de valorização da vida, pelas conseqüentes descobertas da medicina, etc.  
Não há como negar que a inovação tecnológica é a grande ferramenta para o crescimento econômico, para os ganhos de eficiência e de competitividade no mundo moderno. Porém, o desenvolvimento de novas tecnologias e seu rápido aperfeiçoamento induziu a população a ficar cada vez mais dependente dessas inovações, aumentando o consumo excessivo de bens, acarretando efeitos de toda ordem. O consumo exacerbado, iniciado na modernidade, afetou sobremaneira a essência da natureza humana, pois criou necessidades que antes não existiam.
Para Bauman (2004), a explicação está no seguinte fato “a modernidade sólida deixa de existir e em seu lugar surge a modernidade líquida. A primeira seria justamente a que tem início com as transformações clássicas e o advento de um conjunto estável de valores e modos de vida cultural e político. Na modernidade líquida tudo é volátil; as relações humanas não são mais tangíveis e a vida em conjunto – familiar, conjugal, de grupos de amigos, de afinidades políticas, e assim por diante – perde consistência e estabilidade".
A visão pós-moderna não prega um único entendimento, mas, sim, propicia diversas interpretações e inúmeras opções e caminhos diferentes a serem percorridos. Questionamentos são necessários e bem vindos, pois não existe uma verdade única o que deve reinar é a liberdade de expressão e de escolha.
É preciso não perder de vista nossos princípios, valores e dignidade. É preciso acreditar na possibilidade do resgate do ser, do eu interior e dos seus desejos.
Parafraseando o Padre Jorge Filipe Teixeira Lopes (Arautos do Evangelho) podemos dizer que, se neste início de século XXI a dignidade humana está em perigo, isso se deve à ausência de uma visão objetiva e esclarecedora sobre o que é realmente a natureza do homem e quais as suas exigências, para efeitos de um autêntico progresso.

Profa Dra Edna Paciência Vietta


sábado, novembro 24, 2012

Reféns do mundo moderno


Tenho observado com certa preocupação mudanças significativas nos hábitos e estilos de vida do homem moderno. Há quem não consiga mais passar um minuto sequer sem o celular, o computador, a internet, vídeo games. Pessoas que viraram reféns das novas tecnologias, que vivem mais no mundo virtual que no mundo real, cujas relações passaram a ser menos presentes fisicamente, que adotam um tipo de convivência superficial, pobre de vínculos afetivos.
Ao mesmo tempo em que as pessoas têm um grande repertório, muita informação, e congregam grandes redes de contato, uma grande porcentagem, geralmente mais jovens, estão se sentindo carentes de apoio social e familiar, dependentes, inseguras, imaturas, incapazes de resolver seus problemas, instáveis emocionalmente ou com tendência a buscar o prazer de forma imediata do celular.
Não há dúvidas de que a tecnologia trouxe conforto e rapidez para a humanidade, por meio dos avanços tecnológicos, a medicina descobriu o tratamento de inúmeras enfermidades, a tecnologia houve grandes progressos para humanidade. Não obstante, assim como os medicamentos que nos ajudam enfrentar doenças, também podem em certas condições apresentar efeitos colaterais. O uso indiscriminado da tecnologia, também pode provocar, quando mal utilizada, seus efeitos indesejáveis. É preciso estar atentos também aos problemas de convivência, comunicação e condutas que possam surgir em conseqüência de certas inovações tecnológica.
Quer um exemplo simples? Ao procurar um emprego, tenha em mente que o técnico de recursos humanos poderá procurar pelo seu nome no Google ou no Orkut. E, nesse caso, você estará exposto a uma avaliação sem muito controle. O que está ali revelado pode ser seu “cartão de visita”. Tanto pode ser uma boa oportunidade como revelar-se uma inconveniência.  Na verdade, devemos navegar dentro de certas regras e limitações.
Muitas pessoas passam horas diante dos dispositivos eletrônicos com sérias conseqüências para a saúde física e mental.
Atualmente, já se incluiu uma nova doença à lista: “esqueleto de notebook”. Trata-se de dor na coluna e cervicais por posturas inadequadas diante do computador.
Outro inconveniente já detectado é a “síndrome da tela” ou incômodo e sequidade ocular, visão embaçada e dupla por fixar a LER (lesão por esforço repetitivo), vista nas diversas telas durante horas. Assim, as lesões por esforços repetitivos, revelam o lado sombrio das novas formas de nos comunicarmos, trabalhar e nos divertir.
O uso incorreto de aparelhos como touchscreen  pode provocar doenças como:  LER, escoliose, lordose. Este recurso consta de tela sensível ao toque, e está presente em diversos aparelhos tais como computadores,  celulares, videogames.
A Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos da Espanha destaca a alta prevalência da síndrome do cotovelo doído, ou “cotovelo de celular”, dada a postura em que usamos o telefone ao falar, provocando uma hiperextensão dos nervos do cotovelo que adormece essa articulação e os dedos. Se a dor se prolonga, o nervo cubital pode se danificar de modo permanente e requerer cirurgia.
O “ouvido de iPod” decorre do tempo prolongado escutando música a mais de 80 decibéis. Isso pode levar a grande perda de audição (o recomendável são 65 decibéis, embora se aceite os 80 como limite).
Algumas dessas patologias – como o “mal do click” – afetam os nervos do pulso e provocam torção nos dedos, tenossinovite (inflamação dos tendões da mão), calcificações ou epicondilalgias (cotovelo de tenista).
Por último, o videogame que simula esportes de verdade (golfe, tênis, boliche…). Muitas vezes o usuário não percebe o esforço e sofre lesões em dedos, pulsos, cotovelos e ombros por não tê-los aquecido.
O que dizer então dos prejuízos emocionais?  Tensões e pressões no trabalho e na família, insônia, depressão e a extenuante possibilidade de não poder desligar, com pena de sentir os efeitos da abstinência. Estamos consumindo muito mais remédios contra a ansiedade. Recebendo informações 24 horas por dia. Estamos muito mais acelerados, conseqüência de mundo veloz e conectado, um ritmo que pode levar grande proporção da sociedade a ter algum distúrbio de ansiedade, por exemplo, síndrome do pânico, fobia social, a depressão ou outro qualquer transtorno mental.
Ninguém está imune ao uso das tecnologias, não há mais como nos livrarmos delas. E contra isso, não há vacinas. Só nos resta prevenir, educar e conscientizar.
Profa Dra Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica