segunda-feira, setembro 16, 2013

Diferentes Modelos Comportamentais

Diferentes Modelos Comportamentais

Diferentes Modelos Comportamentais

                                                         
 Diferentes Modelos Comportamentais


     As terapias designadas como terapias cognitivo-comportamentais (TCC) constituem uma integração de conceitos e técnicas cognitivas e comportamentais e não comportamentais. A TCC é uma abordagem “eclética” ao integrar conceitos e técnicas de abordagens diferentes tanto no que se refere aos pressupostos teóricos quanto na forma como se dá a prática psicoterápica. No entanto, o modelo cognitivo implica uma decisão teórica: requer entrar no estudo da problemática humana através de um modelo e uma metodologia cognitiva, no qual se vai priorizar o fenômeno cognitivo sobre qualquer outro, sempre ressaltando a influência do cognitivo sobre os demais. Porém, priorizar não significa desconsiderar outros modelos senão tomar uma dada posição teórica, ou seja, o Modelo Teórico é uma opção a priori que uma vez tomada nos obriga a sermos coerentes com ela.

Até a década de 50, o termo mais empregado para se referir a procedimentos de intervenção frente ao comportamento humano, baseados nos pressupostos teóricos do behaviorismo e nos conhecimentos empíricos produzidos pela análise experimental do comportamento, foi “modificação do comportamento” (Kazdin, 1978). Sua origem está relacionada a três fatos principais: as pesquisas fisiológicas realizadas na Rússia, desde o final do século XIX, o surgimento do behaviorismo nos Estados Unidos em 1913, e os avanços obtidos com o desenvolvimento da Psicologia da aprendizagem. Mas foi a partir dos anos 40 que a modificação do comportamento teve seu maior impulso, relacionado, em parte, pela insatisfação de muitos psicólogos com a psicoterapia tradicional vigente, fortemente influenciada pela psicanálise e carente de estudos que comprovassem sua eficácia (Kazdin, 1978).

No final dos anos 60, predominava uma avaliação paradoxal da terapia comportamental, coexistindo um interesse geral pelas suas técnicas, de eficácia cada vez mais comprovada, e um desinteresse ou insatisfação dos novos terapeutas comportamentais pela teoria behaviorista. Tal situação tornou-se, então, propícia para a inserção de outras teorias e técnicas no campo da terapia comportamental, gerando distintos modelos de análise, intervenção e propostas para a adoção de um ecletismo teórico como a melhor alternativa para aqueles que desenvolviam uma prática clínica comportamental (Lee, 1992).
Existem diferentes modelos terapêuticos comportamentais: São exemplos, a Psicoterapia Funcional-Analítica (Kohlenberg & Tsai, 1991), a Terapia da Aceitação e Compromisso (Hayes, Strosahl & Wilson, 1999), a Terapia Racional-Emotiva-Comportamental (Ellis & Dryden, 1997; Ellis & Greiger, 1977) e a Terapia Cognitiva (Beck, Rush, Shaw & Emery, 1979/1982), a Terapia por Contingências de Reforçamento (Guilhardi, 2004), dentre outras. Parece-nos mais adequado, portanto, tratar a terapia comportamental como um campo mais amplo, constituído de propostas terapêuticas mais ou menos fundamentadas na tradição behaviorista (Franks, 1996; Krasner, 1969).
Ellis e Beck, por exemplo, não eram terapeutas comportamentais, mas treinados anteriormente sob o enfoque psicanalítico. De acordo com Wilson (1978), esse termo foi usado pela primeira vez numa convenção em Nova York, em abril de 1976. Posteriormente, a proposição de uma categoria de terapias cognitivo-comportamentais teve como função identificar um grupo de terapias que associavam uma perspectiva teórica enfática quanto ao papel dos processos cognitivos na mediação do comportamento ao uso de estratégias terapêuticas comportamentais (Dobson & Block, 1988; Shinohara, 1997).
Por se tratar de um conjunto heterogêneo, Mahoney e Arnkoff (1978) sugeriram a classificação das terapias cognitivo-comportamentais em três grupos, de acordo com sutis diferenças quanto aos seus objetivos: a) As terapias de habilidades para o enfrentamento, cujo foco está nas formas pelas quais o cliente poderá minimizar os efeitos negativos de eventos externos; b) As terapias de resolução de problemas, mais voltadas para o ensino de estilos de reação e estratégias de produção de um maior número de alternativas possíveis para a solução de problemas; e c) As técnicas de reestruturação cognitiva, cujo alvo é a mudança de pensamentos perturbadores.
Há também grande diversidade de técnicas empregadas, indo desde técnicas projetivas, até técnicas computadorizadas de avaliação de medidas relacionadas à atividade cognitiva. Destacam-se ainda, os procedimentos de investigação imaginativa, de condicionamento encoberto, de confrontação e reestruturação de crenças disfuncionais, correções verbais de visões e/ou processos distorcidos e questionamento socrático, dentre outras (Dobson, 1988; Sweet & Loizeaux, 1991).



 Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Cognitivo-comportamental

Barbosa, J.I.C , Barbosa, A. Rev. Bras. de Terapia Comportamental e Cognitiva, Campinas-SP, 2010, Vol. XII, nº 1/2, 60-79.
Kazdin, C. M. (1978). History of behavior modification: Experimental foundations of contemporary research. Baltimore: University Park Press.
Lee, C. (1992). On cognitive theories and causation in human behavior. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, 23 (4), 257-268.
Kohlenberg, R. J., Tsai, M., Dougher, M. J. (1993). The dimensions of clinical behavior analysis. The Behavior Analyst, 16, 271-282.
Hayes, S. C., Strosahl, K. D. & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and commitment therapy:An experiential approach to behavior change. New York: The Guilford Press.
Ellis, A. & Dryden, W. (1997). The practice of rational-emotive behavior therapy. New York: Springer Publishing Company.
Ellis, A. & Greiger, R. (1977). Handbook of rational-emotive therapy. New York: Springer.
Beck, A. T.; Rush, A. J., Shaw, B. F. & Emery (1982). Terapia cognitiva da depressão. Rio de janeiro: Zahar Editores. Publicado originalmente em 1979.
Guilhardi, H. J. (2004). Terapia por contingências de reforçamento. Em: C. N. de Abreu, e H. J. Guilhardi (Eds.). Terapia comportamental e cognitivo comportamental: Práticas clínicas. São Paulo: Roca.
Franks, C. M. (1996). Origens, história recente, questões atuais e estados futuros da terapiacomportamental: Uma revisão conceitual. In: V. E. Caballo (Org.), Manual de técnicasde terapia e modificação do comportamento (pp. 3-22). Campinas: Editorial Psy.
Krasner, L. (1969). Behavior modification – values and training: The perspective of a psychologist. In C. M. Franks (Ed.) Behavior therapy: appraisal and status (pp. 537- 566). New York: McGraw-Hill.
Dobson, K. S. & Block, L. (1988). Historical and philosophical bases of the cognitive behavioral therapies. In K. S. Dobson (Ed.) Handbook of cognitive-behavioral therapies (pp. 1-38). New York: The Guilford Press.
Shinohara, H. O. (1997). Conceituação da terapia cognitivo-comportamental. In: R. A. Banaco (Org.), Sobre comportamento e cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista (pp. 1-5). São Paulo: ARBytes.
Mahoney, M. J. & Arnkoff, D. B. (1978). Cognitive and self-control therapies. In: S. L. Garfield & A. E. Bergin (Eds.), Handbook of psychotherapy and behavior change: An empirical analysis (pp. 689-722). New York: Wiley.
Dobson, K. S. (1988). The present and future of the cognitive-behavioral therapies. In K. S. Dobson (Ed.) Handbook of cognitive-behavioral therapies (pp. 387-414). New York: The Guilford Press.
Sweet, A. A. & Loizeaux, A. L. (1991). Behavioral and cognitive treatment methods: A critical comparative review. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, 22 (3), 159-185.

quarta-feira, setembro 04, 2013

Síndrome de Hiperventilação e Síndrome do Pânico

Síndrome de Hiperventilação e Síndrome do Pânico


                                        
                                       Síndrome de Hiperventilação e Síndrome do Pânico


     Há muitas evidências de que, durante o ataque de pânico, a estimulação respiratória seja um evento comum em pacientes com Transtornos do Pânico. Certas anormalidades respiratórias, tais como o aumento da sensibilidade ao CO2 e respiração torácica, foram detectadas em pacientes com transtorno de pânico, parecendo haver uma anormalidade básica nos mecanismos fisiológicos que controlam a respiração desses pacientes.
     Evidências sugerem que a fisiologia respiratória continua normal em pacientes com transtorno de pânico e que sua tendência a hiperventilar e a reagir com pânico em resposta a estimulantes respiratórios como o CO2 é na verdade a ativação de um circuito do medo hipersensível. (Meuret AE, Rosenfield D, Hofmann SG, Suvak MK, Roth WT, 2009).
     Os sintomas da Sindrome da hiperventilação e a Síndrome do pânico se sobrepõem consideravelmente, embora as duas condições sejam distintas.Aproximadamente 50% dos pacientes com distúrbio do pânico e 60% dos pacientes com agorafobia (comportamento de evitar lugares ou situações onde o escape seria difícil caso se tenha uma crise de pânico ou algum mal estar ou embaraço), manifestam hiperventilação como parte de seus sintomas, enquanto que apenas 25% dos pacientes com SHV manifestam doença do pânico. A verdade é que diante de qualquer ameaça, situação estressante ou percebida como tal, o corpo reage com alterações fisiológicas, com o objetivo de criar condições físicas necessárias para enfrentar o problema ou fugir dele. Contudo, no TP, o indivíduo não percebe assim, assimilando equivocadamente os sintomas emergentes como algo grave. Em conseqüência dessa cognição distorcida, o indivíduo pode inclusive desenvolver complicações do transtorno de pânico. Um exemplo é a hipocondria, transtorno caracterizado pela preocupação e medo excessivos de adquirir uma doença séria (Barsky et al., 1998).
     O transtorno de pânico (TP) caracteriza-se por ataques agudos de ansiedade freqüentes e recorrentes. A atual concepção para o TP realça o medo das sensações corporais a partir do momento em que o indivíduo associa de forma equivocada as sensações físicas que se apresentam como sendo prenúncio de uma doença grave e/ou morte iminente, não conseguindo interpretá-las como mecanismos fisiológicos naturais.
     Hiperventilação também chamado de Overbreating é quando uma pessoa está com a respiração mais rápida e mais profunda do que o normal. A hiperventilação pode ser uma sensação assustadora. Quando a pessoa hiperventila, seu coração bate mais rápido, provocando palpitação e a sensação de que lhe falta ar. Conseqüentemente o nível de gás carbônico no sangue e no cérebro cai, provocando os seguintes sintomas: palpitação, sensação de falta de ar, formigamento e dormência em pernas, braços e lábios, sensação de morte iminente e, algumas vezes, perda de consciência (desmaio). Os sintomas geralmente duram de 20 a 30 minutos, mas para a pessoa a sensação é de horas.
     Apesar de assustar, a hiperventilação não costuma ser perigosa. A síndrome da hiperventilação observada durante ataques de pânico pode se manifestar de forma aguda ou crônica. Nessa perspectiva, acredita-se que problemas respiratórios causem surtos de hiperventilação e alcalose respiratória, desencadeando vários sinais e sintomas somáticos que, por sua vez, geram medo e ansiedade.
     Estudos mostram que pacientes com transtorno de pânico, tiveram ataque de pânico após a hiperventilação induzida. A hiperventilação por estresse gera sintomas freqüentemente interpretados como risco de morte. A interpretação equivocada desses sintomas aumenta o medo e ativa o sistema nervoso autônomo, aumentando a freqüência respiratória, o que causa maior redução de CO2 que leva a um ataque de pânico. Assim, estudos confirmam haver conexão entre o pânico e a respiração podendo ser esse o ponto de partida para novos estudos do transtorno de pânico e seu tratamento.
     Antes de qualquer intervenção psicológica se faz imprescindível a avaliação médica para se excluir todas as possibilidades da presença de problemas clínicos que possam gerar sintomas similares aos de ataque de pânico.
Na Terapia cognitivo-comportamental o paciente é orientado a melhorar sua respiração e a exercitar técnicas específicas com vistas a diminuir a hiperventilação, além de receber psicoeducação apropriada sobre seu Transtorno, estratégias de enfrentamento, de modo a tranqüilizá-lo quanto ao controle dos sintomas e sensações corporais.
     Outras técnicas como exposição in vivo (expor o paciente gradativamente a situações agorafóbicas) também fazem parte das estratégias.
     A Terapia cognitiva objetiva levar os indivíduos a identificarem com clareza seus pensamentos e a entender a que emoções e comportamentos estão interligados. À medida que o paciente compreende esses mecanismos, torna-se mais fácil desfazer e corrigir a cognição distorcida.
     A terapia cognitivo-comportamental é uma modalidade eficaz de tratamento de pacientes com Transtorno de Pânico, tanto como uma terapia de primeira linha, como uma estratégia para pacientes que não respondam à medicação, ou como na maioria das vezes combinado com a terapia farmacológica.
                                           Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
                                                    Psicóloga Clínica