segunda-feira, fevereiro 16, 2015

DEPRESSÃO: UM TRANSTORNO AFETIVO





Depressão é um Transtorno Afetivo (ou do Humor), caracterizada por uma alteração psíquica e orgânica global, com conseqüentes alterações na maneira de valorizar a realidade e a vida. Se a depressão é uma doença afetiva é importante saber o que se entende por afeto? Afeto é a parte de nosso psiquismo responsável pela maneira de sentir e perceber a realidade. A afetividade é, portanto, a parte psíquica responsável pelo significado sentimental de tudo aquilo que vivemos. Se as coisas que vivenciamos estão sendo agradáveis, prazerosas, sofríveis, angustiantes, se causam medo ou pânico, se dão satisfação, prazer, etc. Todos esses valores são atribuídos pela nossa afetividade. É através do Afeto que o mundo no qual vivemos chega até nossa consciência com o significado emocional que tem para nós.
A depressão é uma doença que envolve nossa afetividade com repercussão no organismo todo, comprometendo o físico, o humor e, em conseqüência, o pensamento de seu portador. Ela altera a maneira como a pessoa vê o mundo, como percebe a realidade, como interpreta as coisas, como manifesta e interpreta suas emoções e como manifesta disposição e o prazer pela a vida. Ela afeta a forma como a pessoa se alimenta, como dorme, como se sente em relação a si próprio, com o ambiente em que vive e as pessoas ao seu redor.
A Depressão é, portanto, uma doença afetiva ou do humor, e não simplesmente estar na "fossa" ou em "baixo astral" passageiro. A depressão é muito complexa e difícil de ser diagnosticada, pois um dos seus principais sintomas pode ser confundido com tristeza, apatia, preguiça, irresponsabilidade e em casos crônicos como fraqueza ou falha de caráter. Não é falta de pensamentos positivos ou de condições que possam ser superadas apenas pela força de vontade ou decisão.
A Depressão, de um modo geral, resulta numa apatia geral, afetando a parte psíquica, as funções mais importantes da mente humana, como a memória, o raciocínio, a criatividade, vontade, o amor e o sexo. Assim, tudo parece ser difícil, problemático e cansativo para o deprimido.
O paciente com depressão apresenta variação de humor e de comportamento, perda de interesse pelas atividades diárias, tristeza, permanente desânimo, ansiedade e irritabilidade. Além disso, torna-se pessimista e apresenta dificuldade para tomar decisões. Também sofre alterações fisiológicas, como cansaço, diminuição da libido, insônia ou excesso de sono, perda ou aumento de apetite, distúrbios digestivos, falta de memória, redução de concentração e da capacidade produtiva. Diante deste quadro é possível entender o sofrimento da pessoa deprimida, todo seu desespero em muitas vezes não ser compreendida em suas queixas, como se a pessoa deprimida pudesse por si só controlar seus sintomas por esforço ou decisão. Da mesma forma, como cada um de nós reage diferente aos sentimentos, cada um terá uma maneira pessoal de manifestar sua Depressão. Há pessoas que ficam caladas diante das suas preocupações, outras choram, outras contam suas dificuldades para todo mundo, outras sentem dor de estômago, alguns têm aumento da pressão arterial, se tornam queixosas, pessimistas, irritáveis, mau humoradas enfim, cada um reagirá diferentemente diante de suas emoções.
Na Depressão Típica falta energia para tolerar e conviver com o próximo, falta tolerância para aceitar o jeito de ser dos outros, falta ânimo para resolver problemas da vida, falta otimismo para acreditar que as coisas estão bem.
Ainda não são conhecidas todas as causas da Depressão, porém, pesquisas nessa área sugerem fortemente influências bioquímicas importantes para a regulação de nosso estado afetivo, além da influência de fatores genêticos e não apenas a conseqüência de experiências de vida atuais ou do passado, como se pensava antes.
A depressão envolve um mal funcionamento cerebral, um desequilíbrio bioquímico dos neurotransmissores responsáveis pelo controle do estado de humor.
O tratamento da depressão é, portanto, e natureza medicamentosa e psicoterápica. Através desta última ajuda-se a pessoa a conhecer e a lidar melhor com seus sentimentos e emoções. Através desse autoconhecimento é esperado que a pessoa passe a melhorar sua relação com a realidade e consigo mesma.
                                                           Profa. Dra Edna Paciência Vietta
                                            Psicóloga Cognitivo-comportamental Ribeirão Preto

SOLIDÃO E PÓS-MODERNIDADE




Para Bauman (1992), a modernidade foi o momento de desenvolvimento de uma ordem racional e de uma liberdade individual até então não alcançada. O indivíduo pós-moderno vive intensamente o mito da liberdade individual. Ele nunca foi tão livre em suas escolhas privadas e públicas, mas também nunca foi tão solitário. (Cova, 1997). A solidão é um fenômeno psicológico com implicações profundas de ordem espiritual, podendo vir acompanhado de inquietação, desânimo, ansiedade, sensação de isolamento e desejo de ser útil a alguém. Ela agrega sentimento de perda e a sensação de que a vida perde propósito e sentido, independentemente de existir ou não isolamento social.

Para a Filosofia o grande desafio é transformar a solidão em aliada de nossa realização pessoal. De acordo com a Filosofia o ser humano nasce só, sua dor e prazer ele os tem no recôndito do seu ser, e finalmente morre só. Para a Sociologia a solidão é o resultado da produção social do individuo “Ego-centrado” e “Individualista”, que ao firmar sua individualidade, firma também a fragmentação do universo social e o isolamento. Para a Psicanálise a solidão é considerada um mecanismo de defesa, e encontra-se intimamente ligado às doenças mentais, isto é, aos sintomas neuróticos e psicóticos. A solidão é uma experiência dolorosa que tem assolado pessoas de todas as idades, raças, camadas sociais e crenças, já tendo sido considerado o grande mal deste século.
O diagnóstico é do psicólogo americano John T. Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA) e autor do livro “Solidão: A Natureza Humana e a Necessidade de Vínculo Social”. Nessa obra o autor destaca como a vida moderna facilita a crescente falta de vínculos sociais. O sentimento é acompanhado de uma sensação de abandono, desamparo e angústia. Essa ausência de conexões com o mundo faz com que a pessoa se esqueça dos benefícios que a solidão pode trazer para suas vidas.
Especialistas alertam: "um pouco de solidão pode ser benéfico, e até necessário". Alguns indivíduos podem sentir-se pressionados pelo ritmo de convivência imposto pelos tempos pós-moderno, e que, nesse caso, uma dose segura de solidão ajuda a superar a sensação de desconforto. "O isolamento moderado contribui para a reflexão". Nesta perspectiva podemos compreender a solidão como um estado de consciência no qual nos voltamos para nós mesmos e analisamos nossa vida, nossas relações, sem o peso da culpa, pautada numa análise não crítica, sem julgamentos ou culpas, num movimento de reflexão sobre o que fizemos e as conseqüências de nossas ações. Dessa forma, a solidão pode ser uma oportunidade de autoconhecimento, de descobrirmos do que gostamos, queremos ou precisamos, bem como, dos recursos de que dispomos para alcançar nossos objetivos. É um modo de nos defrontarmos com o tumulto da pós-modernidade.
De acordo com estudiosos no assunto, o perigo é quando a opção pelo isolamento se manifesta sob formas patológicas, acompanhada de depressão, pânico e vícios, danosos à vida em sociedade. A solidão é um processo necessário para que possamos desenvolver nossa individualidade.
O grande paradoxo é que também precisamos nos relacionar com os outros para nos individualizarmos. Esse é o grande dilema da vida pós- moderna, pois a sociedade atual instrumentaliza o homem, supondo dar todos os recursos para uma vida plena, porém, ao mesmo tempo, torna suas relações efêmeras. O resultado é um individualismo cada vez maior.
A pós-modernidade caracterizou a “sociedade da solidão”, uma solidão nova, intermediada por tecnologia. Um processo em que os indivíduos passam a viver isolados em seus quartos, conectados com seus computadores, enquanto seus familiares estão na sala contígua interligados a outros computadores por meio da internet. Essa nova configuração cria o espaço para a exacerbação de uma postura individualista apontando o EU como principio e fim de todas as coisas. O EU se vê prisioneiro de uma armadilha que revela sua condição de ser solitário.
A pós-modernidade engloba uma sociedade de denominações diversas: sociedade das mídias, sociedade da informação, sociedade high-tech, sociedade eletrônica. A dinâmica social dessa sociedade é marcada pela ênfase nas novas tecnologias da informação e possui características que nos levam a entender as novas formas de sociabilidade do “sujeito pós-moderno. O indivíduo é levado à solidão e lhe são fornecidos mecanismos que fazem com que acredite piamente em uma interação social, mesmo que essa só ocorra por meio de dispositivos técnicos, de forma virtual.
                               Profa. Dra. Edna Paciência Vietta Psicóloga
                             Psicóloga Cognitivo-comportamental Ribeirao Preto