sábado, novembro 24, 2012

Reféns do mundo moderno


Tenho observado com certa preocupação mudanças significativas nos hábitos e estilos de vida do homem moderno. Há quem não consiga mais passar um minuto sequer sem o celular, o computador, a internet, vídeo games. Pessoas que viraram reféns das novas tecnologias, que vivem mais no mundo virtual que no mundo real, cujas relações passaram a ser menos presentes fisicamente, que adotam um tipo de convivência superficial, pobre de vínculos afetivos.
Ao mesmo tempo em que as pessoas têm um grande repertório, muita informação, e congregam grandes redes de contato, uma grande porcentagem, geralmente mais jovens, estão se sentindo carentes de apoio social e familiar, dependentes, inseguras, imaturas, incapazes de resolver seus problemas, instáveis emocionalmente ou com tendência a buscar o prazer de forma imediata do celular.
Não há dúvidas de que a tecnologia trouxe conforto e rapidez para a humanidade, por meio dos avanços tecnológicos, a medicina descobriu o tratamento de inúmeras enfermidades, a tecnologia houve grandes progressos para humanidade. Não obstante, assim como os medicamentos que nos ajudam enfrentar doenças, também podem em certas condições apresentar efeitos colaterais. O uso indiscriminado da tecnologia, também pode provocar, quando mal utilizada, seus efeitos indesejáveis. É preciso estar atentos também aos problemas de convivência, comunicação e condutas que possam surgir em conseqüência de certas inovações tecnológica.
Quer um exemplo simples? Ao procurar um emprego, tenha em mente que o técnico de recursos humanos poderá procurar pelo seu nome no Google ou no Orkut. E, nesse caso, você estará exposto a uma avaliação sem muito controle. O que está ali revelado pode ser seu “cartão de visita”. Tanto pode ser uma boa oportunidade como revelar-se uma inconveniência.  Na verdade, devemos navegar dentro de certas regras e limitações.
Muitas pessoas passam horas diante dos dispositivos eletrônicos com sérias conseqüências para a saúde física e mental.
Atualmente, já se incluiu uma nova doença à lista: “esqueleto de notebook”. Trata-se de dor na coluna e cervicais por posturas inadequadas diante do computador.
Outro inconveniente já detectado é a “síndrome da tela” ou incômodo e sequidade ocular, visão embaçada e dupla por fixar a LER (lesão por esforço repetitivo), vista nas diversas telas durante horas. Assim, as lesões por esforços repetitivos, revelam o lado sombrio das novas formas de nos comunicarmos, trabalhar e nos divertir.
O uso incorreto de aparelhos como touchscreen  pode provocar doenças como:  LER, escoliose, lordose. Este recurso consta de tela sensível ao toque, e está presente em diversos aparelhos tais como computadores,  celulares, videogames.
A Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos da Espanha destaca a alta prevalência da síndrome do cotovelo doído, ou “cotovelo de celular”, dada a postura em que usamos o telefone ao falar, provocando uma hiperextensão dos nervos do cotovelo que adormece essa articulação e os dedos. Se a dor se prolonga, o nervo cubital pode se danificar de modo permanente e requerer cirurgia.
O “ouvido de iPod” decorre do tempo prolongado escutando música a mais de 80 decibéis. Isso pode levar a grande perda de audição (o recomendável são 65 decibéis, embora se aceite os 80 como limite).
Algumas dessas patologias – como o “mal do click” – afetam os nervos do pulso e provocam torção nos dedos, tenossinovite (inflamação dos tendões da mão), calcificações ou epicondilalgias (cotovelo de tenista).
Por último, o videogame que simula esportes de verdade (golfe, tênis, boliche…). Muitas vezes o usuário não percebe o esforço e sofre lesões em dedos, pulsos, cotovelos e ombros por não tê-los aquecido.
O que dizer então dos prejuízos emocionais?  Tensões e pressões no trabalho e na família, insônia, depressão e a extenuante possibilidade de não poder desligar, com pena de sentir os efeitos da abstinência. Estamos consumindo muito mais remédios contra a ansiedade. Recebendo informações 24 horas por dia. Estamos muito mais acelerados, conseqüência de mundo veloz e conectado, um ritmo que pode levar grande proporção da sociedade a ter algum distúrbio de ansiedade, por exemplo, síndrome do pânico, fobia social, a depressão ou outro qualquer transtorno mental.
Ninguém está imune ao uso das tecnologias, não há mais como nos livrarmos delas. E contra isso, não há vacinas. Só nos resta prevenir, educar e conscientizar.
Profa Dra Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica

sábado, novembro 03, 2012

Borderline: entre Neurose e Psicose









Há mais de um século tem se usado o termo borderline, para designar um grupo de pacientes que se caracteriza, basicamente, por apresentar uma alteração mental, patológica, fronteiriça entre a neurose e a psicose.
O termo "borderline" (limítrofe) deriva da classificação de Adolph Stern, que descreveu esta doença, na década de 1930, como um Transtorno de Personalidade que se situa entre neurose e psicose. O termo carece de maior especificidade daí existir um debate atual com objetivo de renomeá-la.
Pessoas com personalidade limítrofe podem possuir sintomas psiquiátricos diversos, como problemas de identidade e humor instável e reativo, sensações de irrealidade e despersonalização. São pessoas com tendência a comportamento briguento, podendo transformar pequenos problemas em causas extremas (envolvendo autoridades), são impulsivas, sobretudo, autodestrutivas, manipuladoras, podendo apresentar ideação suicida e sentimentos crônicos de vazio e tédio. São exigentes em termos de atenção, e por estarem em freqüentes situações de embates, costumam provocar conflitos, fazer falsas acusações e apresentar comportamento egoísta (narcisista). São vistas como "rebeldes", "problemáticas", geniosas e temperamentais.
Os sintomas aparecem durante a adolescência e se concretizam nos primeiros anos da fase adulta (em torno dos 20 anos), podendo persistir por toda a vida. A fase inicial pode ser desafiadora para o paciente, seus familiares e terapeutas, porém na maioria dos casos a severidade do transtorno diminui com o tempo. Por ser mais evidente na adolescência costuma ser confundida com rebeldia ou descontrole próprio da idade o que leva a família a não se dar conta de estar diante de um distúrbio grave.
Os sintomas mais presentes (nem todos Borderline apresentam todos estes sintomas) são: medo de ser abandonado: necessidade de nunca se sentirem sozinhas, rejeitadas e sem apoio (para estes pacientes a idéia de ficarem sozinhos é torturante), dificuldade de administrarem emoções, atitudes imaturas e inconseqüentes podendo serem confundidos com delinqüentes, coisa que não são. O Borderline, ora é independente e aparentemente seguro, ora é simpático, fragilizado e dependente, porém, seus sentimentos podem variar do amor ao ódio profundo, rapidamente.
 Apresentam instabilidade de humor diferente do Transtorno Bipolar. Enquanto as oscilações deste último duram semanas ou meses, as dos Borderline duram minutos, horas, dias. Essas oscilações de humor são rápidas e incluem depressões, ataques de ansiedade, irritabilidade, ciúme patológico, hetero e auto-agressividade. Por exemplo: uma paciente liga para o consultório pedindo ajuda, desesperada, dizendo estar muito deprimida, que a vida perdeu o sentido e comparece à sessão horas depois, bem humorada, de bem com a vida,
O Borderline apresenta comportamento autodestrutivo (se machuca, se corta, se queima, se arrisca) e quando indagados sobre as causas de tais acidentes informam que assim o fazem para satisfazer uma necessidade irresistível de sentir dor, ou por sentir que a dor no corpo "é melhor que a dor na alma". As tentativas de suicídio, mais freqüentemente são as de impulso, não planejadas. Estes pacientes possuem baixa auto-estima, se sentem desvalorizados e incompreendidos. Desenvolvem admiração e desencanto afetivo por alguém muito rapidamente. Pequenas rejeições provocam grandes emoções. Menos freqüentes são os episódios psicóticos, que podem acontecer em situações específicas quando se sentirem observados, perseguidos, assediados, etc.
O Borderline corre risco aumentado de fazer compras compulsivas, praticar sexo de risco, comer compulsivamente, aderir a Bulimia, Anorexia, desenvolver Depressão, Distúrbios de Ansiedade, Abuso de substâncias, Transtorno Afetivo Bipolar e outros Transtornos de Personalidade.
A causa provável é uma combinação de vivências traumáticas (reais ou imaginadas) na infância, por exemplo, abuso psicológico, sexual, negligência, abandono, terror psicológico ou físico, separação dos pais, orfandade, vulnerabilidade individual, estresse ambiental. É importante saber tratar-se de condição grave que necessita tratamento intenso e contínuo.
São fatores de bom prognóstico: bons relacionamentos familiares, sociais, afetivos, profissionais, participação em atividades comunitárias: igrejas, clubes, associações culturais, artísticas, baixa ou ausência de auto-agressão, baixa ou ausente freqüência de tentativas de suicídio, ser casado, ter filhos, não ser promíscuo.
O tratamento indicado é a associação de Medicamento e Psicoterapia.
A boa notícia é que o Borderline pode ser tratado. O tratamento inclui medicamentos, terapia e o apoio de familiares. “Os sintomas diminuem com a idade e podem até desaparecer completamente entre os 30 e 40 anos”.

           Prova. Dra Edna Paciência Vietta
                   Psicóloga Clínica.