Vários autores têm estudado a
religiosidade nas suas relações com o sofrimento individual e os transtornos
mentais.
MacCullou define uma pessoa religiosa como
aquela que possui crenças religiosas e que valoriza, em alguma medida, a
religião como instituição. Já uma pessoa espiritualizada é aquela que acredita,
valoriza ou tem devoção a algum poder considerado superior, mas não
necessariamente possui crença religiosa ou é devoto de alguma religião
institucionalizada.
De acordo com Spilka e MacIntosch, a
conceituação de religiosidade inclui aspectos individuais e institucionais,
enquanto a religiosidade (adesão à crença e a práticas relativas a uma igreja
ou instituição organizada) está ligada a atributos de uma dada religião, a
espiritualidade é a relação estabelecida por uma pessoa com um ser ou força
superior ou sagrado na qual ela acredita.
De um modo geral a espiritualidade, está
presente na vida de todo ser humano, ocupando um espaço importante, capaz de
ajudá-lo a encontrar respostas para diversas situações que, às vezes, parece
impossíveis, como o caso de doenças incuráveis.
Estudos
realizados em diferentes contextos sócio-culturais têm demonstrado que a
espiritualidade tem relação com o comportamento e a predisposição ao vício. A
experiência religiosa é fundamental na vida de todo ser humano, implicando uma
conversão que leva o indivíduo a centrar-se na vida religiosa para então, ou só
então, se tornar um ser completo.
Até pouco
tempo, a psiquiatria tendia a ignorar ou considerar como doença certos
comportamentos religiosos e espirituais. Sabe-se, hoje, que a prática de
princípios religiosos como o perdão, a compaixão, a fé, a esperança, entre
outros, “acalmam” os nervos, por liberar hormônios como acetilcolina,
endorfina, serotonina, etc.
A visão
negativa das experiências religiosas deu origem a atitudes discriminatórias por
parte da comunidade psiquiátrica brasileira, principalmente com relação a certas
religiões. Até os anos 70 pensava-se que a pessoa menos religiosa era mais
saudável, mas não havia estudos que usavam metodologia científica para provar
isso.
Entender,
pois, a complexidade da mente e os efeitos das práticas religiosas sobre a
população é hoje um dos grandes desafios dos pesquisadores.
Estudos
científicos recentes têm demonstrado que os praticantes ativos de uma crença
podem obter benefícios físicos e mentais, entre eles, sistema imunológico mais
resistente e menor propensão a certas doenças. Entre os efeitos negativos
estariam o fanatismo religioso e a autopunição, ou seja, acreditar que doença
teria sido enviada como um castigo de Deus. Cientistas da Duke University
sugeriram que há a possibilidade de que envolvimentos religiosos possam afetar
positivamente a saúde física através de mecanismos neuroendócrinos e imunes, ou
seja, a fé religiosa produziria efeitos no sistema nervoso, em glândulas e no
sistema imune humano.
Pesquisas
demográficas registram que 99% dos adultos brasileiros declaram acreditar em
Deus. Portanto, o desafio para os profissionais, no século atual, é o
entendimento das bases psicológicas das crenças, experiências e comportamentos
religiosos, com vistas a ampliar este conhecimento em prol da saúde e do
bem-estar do ser humano.
Apesar de
serem desenvolvidas há algumas décadas em outros países, como os Estados
Unidos, no Brasil as pesquisas sobre esse tema ainda estão no início, mas já
aparecem principalmente nas universidades públicas: Unifesp, Unicamp, Unesp,
Universidade Federal do Ceará entre outras.
Religiosidade/espiritualidade
fortalece o sentido de vida e o estabelecimento de projetos vitais e é uma
dimensão importante no enfrentamento de situações adversas. Embora também se
possa considerar algumas formas de religiosidade patológica que enfatizam a
fuga da realidade, o fanatismo ou acirramento de conflitos entre culturas, ou
ainda, a associação da religião com efeitos negativos como culpa, ansiedade,
intolerância, depressão, rigidez cognitiva e excessiva dependência.
Dra. Edna
Paciência Vietta
Psicóloga Clínica
Nenhum comentário:
Postar um comentário