Corpolatria
A
“Corpolatria” é uma espécie de “patologia da modernidade” caracterizada pela
preocupação e cuidado extremos com o próprio corpo não exatamente no sentido da
saúde (ou presumida falta dela, como no caso da hipocondria), mas,
particularmente no sentido narcísico de sua aparência ou embelezamento físico.
Para o
corpólatra, sua imagem refletida no espelho se torna obsedante, incapaz de
satisfazer-se com ela, sempre acha que pode e deve aperfeiçoá-la. Sendo assim,
a corpolatria se manifesta como exagero no recurso às cirurgias plásticas,
gastos excessivos com roupas e Marcas, tratamentos estéticos, abuso do
fisiculturismo (musculação), uso de Anabolizantes, etc.
A
sociedade pós-moderna é seduzida pela mídia com propostas de mercado,
interessado na constante insatisfação e na renovação
Na
cultura ocidental há um grande investimento na auto-imagem. O corpo “belo” é
considerado uma mercadoria poderosa, cara. O olhar passa a ocupar lugar central
– é o mundo das imagens, das aparências. O ter passa a ser sinônimo de reconhecimento
do sujeito pelos outros. O sujeito perde-se em sua própria imagem, não dando
conta das suas relações com o outro, pois amar implica em sacrificar um
fragmento de seu narcisismo, enquanto ser amado implica em ser visto e
apreciado.
As
condições de vida transformam também as instituições, a escola, a religião, a
política, sobretudo a família e estas, por sua vez, modelam a estrutura do
sujeito, favorecendo o afloramento de traços narcisistas, presentes em muitos
de nós. Todavia, é indispensável compreender que o processo se dá em via de mão
dupla, pois contribuições individuais terão, por sua vez, o efeito de
realimentar o que Lasch denominou cultura do narcisismo.
Em cada
época, sem se dar conta, o homem é tragado pelo social e produz sintomas determinados
por essa cultura.
Visto que
em nossa sociedade a corpolatria encontra-seem
evidência, nesse espaço – o corpo – é onde os sintomas afloram.
Na era
atual, cujas idéias são pautadas por exigências da sociedade de consumo, que
promove a ilusão da liberdade individual irrestrita, o mal-estar assume muitas
vezes formas de apatia, vazio interior, solidão e fracasso. “Para esses
deprimidos, existe o “eu” ideal e o “eu” real, que se encontram muito distantes
um do outro.
Cristopher
Lasch, conhecido historiador americano, anunciou a substituição das neuroses
sintomáticas por desordens de caráter, caracterizadas pelo narcisismo
patológico relacionadas por ele á mudanças específicas na sociedade. Diz o
autor que a alteração do sentido do tempo, intenso temor ao
envelhecimento e à morte, fascínio pela celebridade, deterioração das relações
entre os homens, declínio do espírito lúdico, negação feroz da dependência ao
outro, são alguns dos padrões característicos da cultura contemporânea,
fortemente narcísica.
As
patologias narcisistas: neo-sexualidades, drogadição, enclaves autísticos,
bulimia, anorexia, doenças psicossomáticas, etc, revelam a tentativa de
preencher o vazio que cada vez mais se aprofunda quando faltam experiências
reais, genuínas e autênticas suficientes para encurtar a distância que separa
os dois ‘eus’ (ideal e real).
No
entanto, há de se ter o cuidado em não se postular esses quadros patológicos
como apanágio exclusivo da pós-modernidade. Há relatos anteriores ao advento da
modernidade sobre eles, porém, hoje é reconhecida sua maior freqüência
Temos
observado mudança significativa no perfil clínico dos nossos pacientes, com
aumentos relevantes de casos de depressão, síndrome do pânico, fobia social,
Transtorno Obsessivo-compulsivo, Obesidade, Vigorexia ou Overtraining,
também chamado romanticamente por Síndrome de Adônis, etc, sendo esta última, a
Vigorexia, uma das mais recentes patologias emocionais
estimuladas pela cultura, não tendo sido, ainda, catalogada como doença
específica pelos manuais de classificação (CID.10 e DSM.IV).
O que há
de comum entre essas patologias é a expressão no corpo. Corpo que se traduz ora
pelo excesso de ações, caracterizado pela voracidade e pelos comportamentos
compulsivos, ora pela ausência de ações, impedido de agir pela angústia
(pânico), ou prostração e desânimo (depressões).
Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica
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