Vigorexia ou Anorexia
Reversa?
É bastante conhecido o fato de que Transtornos Mentais e sintomas de
natureza emocional evoluem e se modificam ao longo dos tempos tomando
características diferentes nas diversas culturas, mostrando-se sensíveis às
transformações sócio-culturais.
Enquanto na época de
Freud predominava a Histeria, cuja manifestação ocorria sob a influência da
sociedade repressiva do final do século XIX, onde a ordem geral era a implacável
e feroz repressão da sexualidade, conduzida por uma moralidade hipócrita e
artificial, implacável e feroz, hoje são comuns as compulsões ou Transtornos
Alimentares (Anorexia, Bulimia), os Transtornos de Ansiedade, as Fobias, o
Pânico, o Transtorno Bipolar, o Transtorno Obsessivo Compulsivo, sob a
influência das sociedades modernas. A escravização que as pessoas das sociedades
civilizadas se submetem aos padrões de beleza tem sido um dos fatores
sócio-culturais associados ao incremento da incidência dos Transtornos
Dismórficos, sejam Corporais (associados à Anorexia e Bulimia) ou Musculares
(Vigorexia).
A Anorexia, doença que
se caracteriza pela recusa à alimentação por medo de engordar, e a Bulimia, na
qual a pessoa provoca o próprio vômito. Atingem principalmente as mulheres: 90%
dos pacientes são meninas entre 12 e 18 anos. A tentativa de
controle do corpo da mulher, que antes se dava através da repressão a traços
tidos como naturais, a obrigação de ser meiga, doce, delicada, hoje aparece na
imposição estética de beleza e magreza. Controlar o corpo da mulher é também
moldar seu comportamento. Um dos efeitos mais perverso disto tudo é o
rebaixamento do nível de auto-estima e a desvalorização da singularidade,
individualidade e identidade da mulher.
A Vigorexia,
comportamento que atinge homens e mulheres surge no contexto de uma sociedade
consumista, competitiva, na qual o culto à imagem acaba adquirindo,
praticamente, a categoria de religião (na conotação fanatismo), é talvez, uma
das mais recentes patologias emocionais, ainda não catalogada como doença
específica pelos manuais de classificação (CID 10 e DSM. IV).
Os vigoréxicos são
praticantes inveterados de esportes e ginásticas que se dedicam ao desempenho
corporal, sem levar em conta as condições físicas, chegando mesmo a sentirem-se
culpados, quando não podem exercitar de forma ritualística ou compulsivamente
tais atividades.
Este distúrbio, comum em homens, às vezes, confundido com simples excesso
de vaidade, advém do controle exagerado do crescimento da massa muscular
provocada por exercícios constantes e contínuos ou por utilização, muitas vezes
inconseqüentes de esteróides anabolizantes, ainda, por obsessão pelo visual
fisiculturista, e por uma espécie de narcisismo, mania de admirar-se diante do
espelho, esforço para alcançar a perfeição física, dentro de um padrão do tipo
Silvester Stallone.
Tanto na Anorexia quanto na
Vigorexia as pessoas buscam a imagem perfeita, segundo padrões ditados pela
televisão, cinema, revistas, passarelas de moda e pela ambição ou ilusão de
galgar prestígio, fama, aceitação, reconhecimento, etc.
Em 1993, o psiquiatra
americano Harrison Pope, professor da Faculdade de
Medicina de Harvard, Massachusetts denominou a doença como Anorexia
Reversa ou Síndrome de Adônis (personalidade mitológico de grande beleza).
Segundo Pope, o Transtorno tem certos aspectos comuns com a Anorexia:
auto-imagem distorcida, fatores sócio-culturais, automedicação e idade de
aparição (entre 18 e 35 anos). Ambas promovem a distorção da imagem que os seus
portadores têm sobre si mesmos. A diferença é que enquanto os anoréxicos nunca
se acham suficientemente magros, os Vigoréxicos nunca se acham suficientemente
fortes e musculosos.
Ter um corpo é ter uma
identidade. Alterá-lo para agradar aos outros, sobretudo, para atender a
expectativas criadas pela própria indústria da estética, é uma forma de ser
menos dono de si mesmo.
A melhor solução é a prevenção, orientação e detecção precoce.
Profa. Dra. Edna
Paciência Vietta
Psicóloga
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