Segundo
Rodrigues et all 2005, o trabalho é o principal regulador da vida, já que o
sujeito organiza seus horários, relacionamentos familiares e sociais em função
deste. Neste contexto, a aposentadoria, por representar a ruptura com o papel
profissional formal, ao invés de ser vivenciada como um repouso merecido, pode
se tornar uma ameaça para o equilíbrio psicológico. Quando nos apresentamos a
alguém nosso trabalho é um
importante elemento da nossa identidade.
O
trabalho ocupa um importante espaço na vida humana. As pessoas vivem em função
de sua atividade profissional, tanto que uma pergunta comum quando se é
apresentado uma pessoa é “Onde você trabalha?” ou “O que você
faz?”
Vivendo
em uma cultura que desvaloriza o trabalho, pois este é pensado como esforço,
renúncia, cansaço e exploração, a possibilidade de deixar de trabalhar parece
ser o grande e único caminho da liberdade tão desejada após anos de labuta.
Com
visão tão negativa e pessimista sobre o trabalho, o não-trabalho ganha
notoriedade e sentidos positivos; não trabalhar significa ser livre, autônomo,
dono da própria vontade e “senhor de seu próprio tempo”. Acredita-se que o não
trabalho liberta o homem dos “castigos” impostos pela obrigatoriedade no
cumprimento de horários, expedientes, pontos e de toda a rotina estafante
associada ao trabalho; Assim, muitos trabalham sem nenhum sentimento de prazer
no trabalho que exerce, contando dias e horas para a tão esperada aposentadoria.
No entanto, é
comum que depois de se aposentar algumas pessoas sintam-se perdidas, sem saber o
que fazer.
A
falta de atividades e o tempo ocioso podem trazer incômodo, vergonha e
constrangimento para quem teve uma vida produtiva podendo levar à depressão,
isolamento, solidão e a outros sintomas associados.
Cavalcanti
(1995) afirmou que o trabalho muitas vezes representa “realização pessoal,
elevando a auto-estima do sujeito devido reconhecimento social e à auto-imagem
positiva originada a partir de bom desempenho profissional”.
O
afastamento do trabalho provocado pela aposentadoria talvez seja uma das perdas
mais relevantes na vida das pessoas. Além de perdas materiais que geralmente
ocorrem em função da diminuição da renda, há perdas sociais e psicológicas
importantes que podem afetar a saúde física e mental do aposentado. O trabalho é
bem mais que simples ganha-pão; o trabalho é elemento fundamental na
constituição da identidade humana (Codo, Sampaio & Hitomi, 1993; Codo &
Sampaio, 1995). Com a aposentadoria, o indivíduo perde a rotina de trabalho; a
identidade de trabalhador e afasta-se do convívio dos colegas. Muitos se
preparam para a aposentadoria e logo encontram um substituto para o trabalho.
Porém, para grande parte dos aposentados, o que ocorre é que nos primeiros meses
há uma sensação gostosa de férias. Depois, vem o sentimento de vazio; de
inutilidade, solidão e algumas vezes a depressão (Pacheco, 2002). Você acorda de
manhã e já não tem mais para onde ir, acabou seu compromisso, não tem mais
obrigações, já não sabe o que fazer. Você já não é mais o professor, o mecânico
ou enfermeira. Aos poucos vai perdendo o reconhecimento social pelo profissional
que foi um dia e perde também o reconhecimento de si próprio. É com essa
sensação que o aposentado precisa lidar agora.
Os
aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais são dimensões
inter-relacionadas, devendo haver integração, equilíbrio e harmonia entre
elas.
A
aposentadoria é um período de reestruturação da vida e de valores. É neste
período de mudanças extremas que familiares e amigos são de grande importância.
Neste momento retoma-se a vida pessoal deixada de lado ou para trás; bom
relacionamento entre casais, filhos, amigos fora do ambiente de trabalho.
Normalmente os trabalhadores são tão absorvidos pelo trabalho que acabam
deixando suas famílias e amigos. O momento de aposentadoria pode ser o momento
de reflexão e retomada desses vínculos. É preciso se preparar para a
aposentadoria e caso já tenha se aposentado ainda há o recurso de buscar ajuda
para torna essa opção uma condição saudável.
A
Psicoterapia é um lugar de encontro e de construção: encontro consigo mesmo, no
desvelamento de novas possibilidades de realização de seu viver e construção de
uma maneira nova de encarar as diversas situações experienciadas em seu
cotidiano.
Profa Dra Edna Paciência
Vietta
Psicóloga Clínica
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